Coringa: Rei da
Comédia
Luiz Maurício Bentim da Rocha Menezes
Gostaríamos de retomar aqui o filme “Coringa” de Todd Phillips e estrelado por Joaquin Phoenix. Apesar de já termos feito uma longa análise em três partes (A Impossível Genealogia do Coringa 1, 2, 3), iremos estabelecer uma comparação com outro filme chamado “O Rei da Comédia”, filme de 1982 e dirigido por Martin Scorsese.
Em o “Rei da Comédia” temos como personagem principal Rupert Pupkin
(Robert De Niro), um comediante amador que sonha em participar do show de seu grande
ídolo Jerry Langford (Jerry Lewis). Jerry Langford é um famoso apresentador de
um show que passa em uma emissora de TV, onde ele recebe diferentes
personalidades famosas para entrevistas. Depois de várias tentativas para convencer
Jerry de que deveria participar do show, Rupert resolve sequestrá-lo e forçar a
emissora a permitir sua apresentação. No fim, Rupert acaba bem sucedido em sua
empreitada e, apesar de ser preso pelo sequestro, se torna famoso e consegue
seu próprio show quando libertado da prisão.
O filme do “Coringa” é claramente uma via interpretativa do “Rei da
Comédia” e possui significativas semelhanças entre os personagens principais.
Assim como Rupert Pupkin, o sonho de Arthur Fleck é ter uma chance de
participar do show de seu grande ídolo Murray Franklin. Franklin ocupa aqui o
papel de Langford em o “Rei da Comédia” e tem o mesmo tipo de programa. Uma curiosidade
é que Murray Frankin é feito pelo ator Robert De Niro, em uma espécie de
inversão de papéis entre os dois filmes: enquanto em o “Rei da Comédia” De Niro
é o aspirante a comediante e sofre para conseguir um lugar no palco, em “Coringa”
ele é um renomado apresentador que tem seu próprio show. No primeiro a
simplicidade do amador, no segundo a arrogância do veterano, antes feita por
Jerry Lewis. Essa não deixa de ser uma homenagem significativa de Philips a Scorsese
utilizando De Niro como interlocutor.
Um outro ponto de significativa convergência entre os filmes é que tanto
Fleck como Pupkin tem alucinações e vislumbram a fama em uma espécie de delírio
acordado, onde imaginam acontecimentos que não existem de fato. Uma relação
conflituosa com a mãe é um outro ponto relevante para a nossa análise. Enquanto
Fleck cuida da mãe doente, Pupkin é interrompido de seus sonhos delirantes de
fama a todo momento pela voz da mãe que nunca aparece. Ao final do filme,
descobrimos que a mãe de Pupkin já está morta há nove anos e a voz que ele ouve
dela nada mais é do que um de seus delírios. Isso nos remete a um outro filme
famoso: “Psicose” (1959) de Alfred Hitchcock. Em “Psicose”, Norman Bates conversa
constantemente com sua mãe que já está morta há anos. Ele se funde a tal ponto
com a figura materna que chega a se vestir como a mãe e agir como se fosse ela.
Em uma das cenas mais clássicas do cinema, Norman mata uma mulher na banheira
vestido como se fosse a sua mãe, um distúrbio mental bastante incomum, mas que
deixa sequelas de suspense para esse psicopata que chocou o mundo do cinema.
Tanto Bates, Pupkin e Fleck apresentam relações conflituosas com a figura materna como sendo um dos motivos de seus distúrbios, embora isso seja insuficiente para explicar a razão (ou irrazão) por trás desses casos psicológicos gravíssimos que desafiam a psiquê humana e estão para além de toda imaginação possível.
Filme: O Rei da Comédia
Direção: Martin Scorsese
Elenco: Robert De Niro, Jerry Lewis
Gênero: Comédia
Título original: The King of
Comedy
Distribuidor: 20th Century Fox
Ano de produção 1982