quarta-feira, 9 de setembro de 2020

Coringa: Rei da Comédia

 

Coringa: Rei da Comédia

Luiz Maurício Bentim da Rocha Menezes


Gostaríamos de retomar aqui o filme “Coringa” de Todd Phillips e estrelado por Joaquin Phoenix. Apesar de já termos feito uma longa análise em três partes (A Impossível Genealogia do Coringa 1, 2, 3), iremos estabelecer uma comparação com outro filme chamado “O Rei da Comédia”, filme de 1982 e dirigido por Martin Scorsese.

Em o “Rei da Comédia” temos como personagem principal Rupert Pupkin (Robert De Niro), um comediante amador que sonha em participar do show de seu grande ídolo Jerry Langford (Jerry Lewis). Jerry Langford é um famoso apresentador de um show que passa em uma emissora de TV, onde ele recebe diferentes personalidades famosas para entrevistas. Depois de várias tentativas para convencer Jerry de que deveria participar do show, Rupert resolve sequestrá-lo e forçar a emissora a permitir sua apresentação. No fim, Rupert acaba bem sucedido em sua empreitada e, apesar de ser preso pelo sequestro, se torna famoso e consegue seu próprio show quando libertado da prisão.

O filme do “Coringa” é claramente uma via interpretativa do “Rei da Comédia” e possui significativas semelhanças entre os personagens principais. Assim como Rupert Pupkin, o sonho de Arthur Fleck é ter uma chance de participar do show de seu grande ídolo Murray Franklin. Franklin ocupa aqui o papel de Langford em o “Rei da Comédia” e tem o mesmo tipo de programa. Uma curiosidade é que Murray Frankin é feito pelo ator Robert De Niro, em uma espécie de inversão de papéis entre os dois filmes: enquanto em o “Rei da Comédia” De Niro é o aspirante a comediante e sofre para conseguir um lugar no palco, em “Coringa” ele é um renomado apresentador que tem seu próprio show. No primeiro a simplicidade do amador, no segundo a arrogância do veterano, antes feita por Jerry Lewis. Essa não deixa de ser uma homenagem significativa de Philips a Scorsese utilizando De Niro como interlocutor.

Um outro ponto de significativa convergência entre os filmes é que tanto Fleck como Pupkin tem alucinações e vislumbram a fama em uma espécie de delírio acordado, onde imaginam acontecimentos que não existem de fato. Uma relação conflituosa com a mãe é um outro ponto relevante para a nossa análise. Enquanto Fleck cuida da mãe doente, Pupkin é interrompido de seus sonhos delirantes de fama a todo momento pela voz da mãe que nunca aparece. Ao final do filme, descobrimos que a mãe de Pupkin já está morta há nove anos e a voz que ele ouve dela nada mais é do que um de seus delírios. Isso nos remete a um outro filme famoso: “Psicose” (1959) de Alfred Hitchcock. Em “Psicose”, Norman Bates conversa constantemente com sua mãe que já está morta há anos. Ele se funde a tal ponto com a figura materna que chega a se vestir como a mãe e agir como se fosse ela. Em uma das cenas mais clássicas do cinema, Norman mata uma mulher na banheira vestido como se fosse a sua mãe, um distúrbio mental bastante incomum, mas que deixa sequelas de suspense para esse psicopata que chocou o mundo do cinema.

Tanto Bates, Pupkin e Fleck apresentam relações conflituosas com a figura materna como sendo um dos motivos de seus distúrbios, embora isso seja insuficiente para explicar a razão (ou irrazão) por trás desses casos psicológicos gravíssimos que desafiam a psiquê humana e estão para além de toda imaginação possível.


Filme: O Rei da Comédia

Direção: Martin Scorsese

Elenco: Robert De Niro, Jerry Lewis

Gênero: Comédia

Título original: The King of Comedy

Distribuidor: 20th Century Fox

Ano de produção 1982