Tese defendida: A tese da designação rígida não implica, não reforça e nem sustenta o essencialismo; e quem pensa de outro modo está confundindo palavras com coisas.
Tese negada: A tese de que os nomes próprios são designadores rígidos implica, reforça ou sustenta o essencialismo.
Sobre a designação rígida: Designadores são termos que designam objetos. Eles são de dois tipos: nomes próprios e descrições definidas; e podem ser rígidos ou não-rígidos. Ele é rígido se, e só se, designa o mesmo objeto em todos os mundos possíveis. Nomes próprios e descrições definidas podem ser rígidos. Entretanto, diferentemente das descrições, os nomes próprios parecem ser sempre rígidos. Pois parece que, em nossa linguagem comum, utilizamos um nome próprio para designar o mesmo objeto, independente das possibilidades que forjamos para tal objeto. Não é objetivo de Murcho defender que os nomes próprios são designadores rígidos, mas somente dizer que mesmo que eles o sejam, isso não implicará o essencialismo.
Sobre o essencialismo: O essencialismo é a tese que afirma que os objetos, além de propriedades essenciais triviais, têm propriedades essenciais não-triviais. Propriedades triviais são propriedades asseridas para um objeto apenas em função da lógica, e propriedades não-triviais são propriedades asseridas para um objeto por outros motivos que não apenas lógicos (como ter a propriedade de ser humano). E dizer que algo tem essencialmente uma propriedade significa dizer que aquele objeto não poderia deixar de ter aquela propriedade e continuar sendo o mesmo de que estávamos falando.
Argumentação a favor da tese defendida: Se admitirmos a designação rígida e não formos forçados a aceitar o essencialismo, então a tese defendida é verdadeira. Assim, se penso que “Lula” é um designador rígido e que os objetos não têm propriedades essenciais não-triviais (posição não-essencialista), então afirmarei que “Lula” no mundo atual designará um certo objeto (o presidente do Brasil em 2008), que em outros mundos possíveis designará outros objetos (como um certo rato, ou uma determinada alface) e que todos esses objetos são o mesmo objeto: o objeto que designamos por “Lula” no mundo atual. Se, de outro modo, o não-essencialista rejeita a designação rígida, ele perde recursos para asserir a tese que gostaria, pois ao falar que o presidente do Brasil em 2008 não é essencialmente um ser humano, ele apenas estaria falando que num mundo possível, há alguém que é presidente do Brasil e não é ser humano. E daí, o não-essencialista não estaria mais falando de Lula, mas estaria falando que num mundo possível outra pessoa ocupa o cargo de presidente do Brasil em 2008 e ela não é humana; o que não é o que o não-essencialista quer dizer. Assim, tanto para exprimir adequadamente idéias essencialistas, quanto não-essencialistas, é preciso aceitar a tese da designação rígida.
Observação: A tese da designação rígida difere da tese de que um dado objeto não poderia ter outro nome, pois para falar que X poderia ter tido outro nome, precisamos usar “X” rigidamente. Pois se não, ao falar que X poderia se chamar Y, estaríamos falando de outra pessoa que não a que designamos por “X” no mundo atual. Isso é assim, porque falar que X poderia se chamar Y é o mesmo que falar que num mundo possível X se chama Y. Como o X do mundo atual chama-se Y num mundo possível, falar de X nesse mundo possível é falar de outra pessoa que não o Y; é apenas dizer que há uma pessoa naquele mundo possível que tem o mesmo nome que o Y do mundo possível. Assim, a designação rígida é necessária tanto para afirmarmos que um objeto poderia ter tido outro nome, quanto para afirmamos que ele não poderia ter tido; e, portanto, difere dessas duas teses.
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