Acabou Chorare
Luiz Maurício BR Menezes
Ai ai, Saudade, não venha me matar...
O cantor e
compositor Moraes Moreira morreu na madrugada desta segunda-feira (13 de abril de
2020) aos 72 anos no Rio de Janeiro. Moreira fez parte do conjunto musical
brasileiro “Novos Baianos” e lançou mais de 60 discos. O grupo foi considerado
revolucionário pelas suas músicas e a mistura de ritmos que vão de samba, bossa
nova, frevo, baião, choro, afoxé e ijexá ao rock n' roll. Nascido em 8 de julho
de 1947 na cidade de Ituaçu, Bahia, Moreira teve em Acabou Chorare seu
álbum mais famoso, álbum esse gravado junto com os Novos Baianos. Lançado em
1972, o álbum permanece como um dos mais importantes da música popular
brasileira e também um dos mais influentes quase 50 anos após seu lançamento. O disco já esteve em primeiro lugar entre os 100 maiores discos da música brasileira, segundo a revista Rolling Stone.
Lembro que
em 2015, quando eu estava em Macapá (AP) para o “Festival Quebramar”, Moraes Moreira
se apresentou junto com o filho, Davi Moraes, no domingo, dia 08 de março. O
show foi uma homenagem aos 40 anos do lançamento de Acabou Chorare. Mesmo
muitos dos presentes não conhecendo o grande ícone que estava diante deles,
Moreira tocou todas as músicas do disco e animou a noite da população
macapaense em frente à Fortaleza de São José. Ao final da noite, Moreira
agradeceu ao público junto com seu filho, saindo feliz e satisfeito pelo
trabalho realizado.
No dia 17
de março de 2020, Moraes Moreira escreveu seu último post no Instagram, com um
cordel sobre a quarentena. Leia abaixo:
Quarentena (Moraes Moreira)
Eu temo o
coronavirus
E zelo por
minha vida
Mas tenho
medo de tiros
Também de
bala perdida,
A nossa fé
é vacina
O professor
que me ensina
Será minha
própria lida
Assombra-me
a pandemia
Que agora
domina o mundo
Mas tenho
uma garantia
Não sou
nenhum vagabundo,
Porque todo
cidadão
Merece mas
atenção
O
sentimento é profundo
Eu não
queria essa praga
Que não é
mais do Egito
Não quero
que ela traga
O mal que
sempre eu evito,
Os males
não são eternos
Pois os
recursos modernos
Estão aí,
acredito
De quem
será esse lucro
Ou mesmo a
teoria?
Detesto
falar de estrupo
Eu gosto é
de poesia,
Mas creio
na consciência
E digo não
a todo dia
Eu tenho
medo do excesso
Que seja em
qualquer sentido
Mas também
do retrocesso
Que por aí
escondido,
As vezes é
o que notamos
Passar o
que já passamos
Jamais será
esquecido
Até aceito
a polícia
Mas quando
muda de letra
E se
transforma em milícia
Odeio essa
mutreta,
Pra
combater o que alarma
Só tenho
mesmo uma arma
Que é a
minha caneta
Com tanta
coisa inda cismo…
Estão na
ordem do dia
Eu digo não
ao machismo
Também a
misoginia,
Tem outros
que eu não aceito
É o tal do
preconceito
E as
sombras da hipocrisia
As coisas
já forem postas
Mas
prevalecem os relés
Queremos
sim ter respostas
Sobre as
nossas Marielles,
Em meio a
um mundo efêmero
Não é só
questão de gênero
Nem de
homens ou mulheres
O que vale
é o ser humano
E sua
dignidade
Vivemos num
mundo insano
Queremos
mais liberdade,
Pra que
tudo isso mude
Certeza,
ninguém se ilude
Não tem
tempo, nem idade
Para os
admiradores da carreira do artista, Morares Moreira nos deixou cedo demais e
irá nos matar de saudade...