domingo, 5 de maio de 2019

Cinema e Técnica




Gostaria de propor uma reflexão sobre o cinema e a técnica. Desde o consagrado ensaio de Walter Benjamin “A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica”, podemos pensar o papel do cinema junto à cultura de massas. Nesse ensaio, Benjamin demonstra de que maneira o cinema é capaz de integrar as massas, alienando-as da realidade em que vivem e condicionando o seu modo de vida. Será através da política (mais especificamente o fascismo) que o cinema será utilizado manipular e ordenar as massas. Benjamin fala a partir de uma análise do capitalismo e suas consequências para a cultura. O processo de massificação feito pelo cinema é análogo ao processo de alienação dos trabalhadores nas indústrias. Como nos diz Benjamin:


“A crescente proletarização dos homens contemporâneos e a crescente massificação são dois lados do mesmo processo. O fascismo tenta organizar as massas proletárias recém-surgidas sem alterar as relações de produção e propriedade que tais massas tendem a abolir. Ele vê sua salvação no fato de permitir às massas a expressão de sua natureza, mas certamente não a dos seus direitos. Deve-se observar aqui, especialmente se pensarmos nas atualidades cinematográficas, cuja significação propagandística não pode ser superestimada, que a reprodução em massa corresponde de perto à reprodução das massas”.

Ao observarmos os recentes filmes de heróis Marvel-DC, podemos ver certas discussões pertinentes como:
1. Vingadores: homem x máquina
2. Pantera Negra: luta contra o racismo.
3. Capitã Marvel: feminismo e empoderamento da mulher.
Mas não seria isso uma grande jogada da ideologia burguesa para amortecer as massas? Fazendo mais uma vez o fetiche da mercadoria ao alienar a luta por trás do contexto que há em cada filme. Tal sentido histórico que envolve todas essas lutas não pode ser esquecido. Por que devemos aceitar que a indústria cultural paute as nossas reivindicações? Toda essa produção cinematográfica não passa de mercadoria com o intuito de manter o ciclo do Capital. Lixo produzido e reproduzido pela indústria cultural. Não contribui em nada para a verdadeira luta! Alienação das massas com a utilização do cinema: isso é Hollywood. Somos nós que tentamos extrair algo de bom, algo que preste nesse lixo todo. Mas, de fato, Hollywood pouco se importa. Se é o que está vendendo agora é o que se deve produzir. Nem mais nem menos.
É claro que as reações racistas e antifeministas ao Pantera Negra e à Capitã Marvel também são dignas de análise. Seriam apenas simulacros? Se são, também são simulacros que incomodam, em alguma medida, uma parte dos adictos consumidores de simulacros. Mas isso tudo fica só no deslumbre. Fetiche da mercadoria, destruição da aura da obra de arte, produção de cultura de massas, de maneira a poder anular o levante histórico e fazê-lo parecer não fazer diferença.
A questão é se devemos disputar esse terreno ou enfraquecê-lo. São simulacros das lutas reais. Até q ponto eles podem responder as verdadeiras questões? Não seriam tais filmes um caminho alienante do real? Ao invés de ilustrarem, eles ignoram a verdadeira face do real. E é nisso que deve se centrar o nosso olhar quando entramos novamente em uma sala de cinema e não somente no deleite do espetáculo que o cinema pode produzir.

(Luiz Maurício Bentim)