Gostaria de propor uma
reflexão sobre o cinema e a técnica. Desde o consagrado ensaio de Walter
Benjamin “A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica”, podemos
pensar o papel do cinema junto à cultura de massas. Nesse ensaio, Benjamin
demonstra de que maneira o cinema é capaz de integrar as massas, alienando-as
da realidade em que vivem e condicionando o seu modo de vida. Será através da
política (mais especificamente o fascismo) que o cinema será utilizado manipular
e ordenar as massas. Benjamin fala a partir de uma análise do capitalismo e
suas consequências para a cultura. O processo de massificação feito pelo cinema
é análogo ao processo de alienação dos trabalhadores nas indústrias. Como nos
diz Benjamin:
“A crescente proletarização dos
homens contemporâneos e a crescente massificação são dois lados do mesmo
processo. O fascismo tenta organizar as massas proletárias recém-surgidas sem
alterar as relações de produção e propriedade que tais massas tendem a
abolir. Ele vê sua salvação no fato de permitir às massas a expressão de sua
natureza, mas certamente não a dos seus direitos. Deve-se observar aqui,
especialmente se pensarmos nas atualidades cinematográficas, cuja significação
propagandística não pode ser superestimada, que a reprodução em massa
corresponde de perto à reprodução das massas”.
Ao observarmos os recentes filmes de
heróis Marvel-DC, podemos ver certas discussões pertinentes como:
1. Vingadores: homem x máquina
2. Pantera Negra: luta contra o
racismo.
3. Capitã Marvel: feminismo e
empoderamento da mulher.
Mas não seria isso uma grande jogada
da ideologia burguesa para amortecer as massas? Fazendo mais uma vez o fetiche
da mercadoria ao alienar a luta por trás do contexto que há em cada filme. Tal
sentido histórico que envolve todas essas lutas não pode ser esquecido. Por que
devemos aceitar que a indústria cultural paute as nossas reivindicações? Toda
essa produção cinematográfica não passa de mercadoria com o intuito de manter o
ciclo do Capital. Lixo produzido e reproduzido pela indústria cultural. Não
contribui em nada para a verdadeira luta! Alienação das massas com a utilização
do cinema: isso é Hollywood. Somos nós que tentamos extrair algo de bom, algo que
preste nesse lixo todo. Mas, de fato, Hollywood pouco se importa. Se é o que
está vendendo agora é o que se deve produzir. Nem mais nem menos.
É claro que as reações racistas e
antifeministas ao Pantera Negra e à Capitã Marvel também são dignas de análise.
Seriam apenas simulacros? Se são, também são simulacros que incomodam, em
alguma medida, uma parte dos adictos consumidores de simulacros. Mas isso tudo fica
só no deslumbre. Fetiche da mercadoria, destruição da aura da obra de arte,
produção de cultura de massas, de maneira a poder anular o levante histórico e
fazê-lo parecer não fazer diferença.
A questão é se devemos disputar esse
terreno ou enfraquecê-lo. São simulacros das lutas reais. Até q ponto eles
podem responder as verdadeiras questões? Não seriam tais filmes um caminho
alienante do real? Ao invés de ilustrarem, eles ignoram a verdadeira face do
real. E é nisso que deve se centrar o nosso olhar quando entramos novamente em
uma sala de cinema e não somente no deleite do espetáculo que o cinema pode
produzir.
(Luiz Maurício Bentim)