Em 31 de maio de 2019, a professora
Carolina Araújo da UFRJ lançou uma proposta ousada e muito pertinente para a
filosofia no Brasil: a criação de uma Associação Brasileira de Filosofia. A sua
proposta pode ser lida na íntegra no fórum de debates da Associação Nacional de
Pós-Graduação em Filosofia (ANPOF)*. O intuito desta coluna é reforçar a
proposta da criação desta associação que uniria os filósofos de todo o país,
dando-nos uma unidade para lutar pelo o nosso ofício.
O ofício do filósofo é um antigo ofício
que vem se propagando há séculos através do mundo. Que ele ainda precise se
afirmar como tal parece ser algo descabido, no entanto, não é a primeira vez
que o filósofo precisa mostrar o seu valor e o seu papel perante a sociedade.
Nas palavras da professora Carolina: “Argumentar que há um ofício filosófico
não é defender procedimentos de normalização, garantir a averiguação de domínio
de conteúdos mínimos na formação (embora isso já seja a política dos cursos),
ou estipular regras para entrada no grupo. Nada disso. Argumentar que há um
ofício filosófico, como faço aqui, é apenas apontar para um fato no mundo. Um
fato que muitos querem negar: os nossos governantes antes de tudo, mas também
alguns de nós”.
A tentativa de negar a filosofia é só
um reforço ao ataque recente que as humanidades vêm sofrendo do governo atual
do Brasil. As ciências humanas, que sempre aparecem diminuídas com relação às
ciências exatas e biológicas, têm uma maior dificuldade no seu reconhecimento
como atuantes no mercado de trabalho. Isso é um reflexo de processo
mercadológico que se tornou a educação, em que o centro é a produção de
mercadoria e não de conhecimento. Como relação à filosofia, nos diz a
professora Carolina: “Não é preciso mais do que isso para descrever a prática
que define o nosso ofício. E com essa prática damos o nosso maior retorno à
sociedade, nosso melhor produto: a inteligência. Nós produzimos inteligência,
porque o resultado da refutação é pensar melhor sobre o que se considerava
evidente. Nós produzimos modos de fazer melhor, com mais atenção, com mais
rigor, com mais precisão. E não há sociedade no mundo, país no mundo, que não
precise urgentemente de inteligência”.
A inteligência, o conhecimento, a
sabedoria... caminhos que a filosofia produz com seus métodos, críticas e
dialéticas. E é no intuito de nos mantermos na construção de conhecimento que
devemos levar em consideração todas as áreas possíveis de atuação do filósofo.
Não somente as universidades e pós-graduações, mas o ensino médio e, quiçá, o
fundamental. Eu como professor dos três níveis (ensino médio, graduação e
pós-graduação) vejo como é relevante o ensino gradual e consistente da
filosofia. Ela é um caminho para o livre pensar. Nada além da liberdade que ela
nos abre para o pensamento e também para a ação. E para empreender isso é
preciso fortalecer o ofício do filósofo. Como finaliza a professora Carolina: “A
minha proposta é pela ampliação da ANPOF em uma Associação Brasileira de
Filosofia. Uma associação que continuará a ser sustentada pelos Programas de
Pós-Graduação, mas que tenha como membros e agentes decisórios os filósofos
brasileiros. Uma Associação que possa conduzir debates de modo mais amplo e com
temática mais ampla, enfim uma associação do ofício filosófico tal como ele
acontece no Brasil”. Ela tem o meu apoio para isso. Acredito que devemos todos
fortalecer essa corrente em pró do crescimento da filosofia no país.