Mitologias V
Acrescentamos abaixo mais um fragmento da obra “Mitologias” de Roland
Barthes sobre os mitos de direita:
Estatisticamente, o mito se
localiza na direita. É aí que ele é essencial: bem-alimentado, lustroso,
expansivo, falador, inventa-se continuamente. Apodera-se de tudo: justiças,
morais, estéticas, diplomacias, artes domésticas, Literatura, espetáculos. A
sua expansão tem a exata medida da omissão do nome burguês. A burguesia
pretende conservar o ser sem o parecer: é, portanto, a própria negatividade do
parecer burguês, infinita como toda negatividade, que solicita infinitamente o
mito. O oprimido não é coisa alguma; possui apenas uma fala, a de sua
emancipação, o opressor é tudo, a sua fala é rica, multiforme, maleável, dispõe
de todos os graus possíveis de dignidade: tem a posse exclusiva da
metalinguagem. O oprimido faz o mundo e possui apenas uma linguagem ativa, transitiva (política).
O opressor conserva o mundo, a sua fala é completa, intransitiva, gestual,
teatral: é o Mito; a linguagem do oprimido tem como objetivo a transformação e
a linguagem do opressor, a eternização.
Essa plenitude dos mitos da Ordem
(é assim que a burguesia se designa a si mesma) comporta diferenças internas?
Existem, por exemplo, mitos burgueses e mitos pequeno-burgueses? Não podem
existir diferenças fundamentais, pois, qualquer que seja o público que o
consome, o mito postula a imobilidade da Natureza. Mas podem existir graus de
realização ou expansão: certos mitos amadurecem melhor em certas zonas sociais;
também existem microclimas para o mito. (2003. p. 241)
Depois de uma análise dos mitos de esquerda (Mitologias IV),
passemos a caracterização dos mitos de direita dado por Barthes. Os mitos de
direita são aqueles que querem a manutenção da ordem, querem a permanência dos
tempos e, para isso precisam controlar dos os meios de comunicação e enchê-los
de mitos. “O oprimido”, dirá Barthes, “faz
o mundo e possui apenas uma linguagem ativa, transitiva (política). O opressor
conserva o mundo”. Essa é uma diferença fundamental entre esquerda e direita: a
revolução e o conservadorismo. Enquanto a esquerda quer transformar o mundo,
não só com palavras, mas também com ação; a direita quer a permanência, quer
lutar contra qualquer mudança, quer conservar a status quo ou, em outras palavras, quer a manutenção da ordem do
mundo tal como ela se apresenta. Para a direita a mudança não é necessária e,
por isso, ela necessita ter a posse exclusiva da metalinguagem, isto é, do mito,
pois o mito auxilia na eternização
das coisas tais como elas não se encontram
no mundo real. Por isso, é uma deturpação da Natureza, uma pseudophýsis. O mundo é mudança e transformação, já diria Heráclito.
Luiz Maurício Bentim da Rocha Menezes