O medo de cair
Quando
ensinamos uma criança a andar procuramos que supere aos poucos alguns
obstáculos como a pouca força que ainda tem nas pernas, a falta de equilíbrio,
ou o medo de cair. Na verdade, quanto mais tempo demorar
até a criança vencer esse medo de cair mais tempo vai demorar a ganhar força
nas pernas e mais tempo vai demorar a ganhar o equilíbrio que lhe permitirá ter
em si a confiança necessária para arriscar dar passos atrás de passos
ultrapassando distâncias e obstáculos cada vez mais difíceis.
De uma forma análoga se o
primeiro obstáculo ao aprender a andar é o “medo de cair” o primeiro obstáculo
ao aprender a pensar é o “medo de errar” e a muitos dos nossos alunos (à grande
maioria dos nossos alunos, arrisco), nunca é dada a oportunidade de aprenderem
a pensar de uma forma competente pois nunca, ao longo dos vinte e tal anos de
escolarização que sofrem, lhes é dito que não há mal nenhum em cair, que errar
é bom pois é a consequência de correrem um risco. Ou, se tal alguma vez lhes é
dito por um professor mais voluntarioso ou generoso, à primeira oportunidade a
realidade deste sistema de ensino trata de o desmentir peremptoriamente.
. Como a criança que só anda se arriscar cair, o aluno só pensa se arriscar
errar. Num sistema de ensino em que o erro não é incentivado mas, antes, é
julgado e criticado quando não ignorado, é mais do que natural que os alunos
evitem errar simplesmente procurando imitar aqueles que, supostamente, não
erram e imitando, em última análise, o exemplar de infalibilidade que lhe é
posto à frente, o seu professor.
Sim, é verdade que, de uma
forma geral, todos acabamos por saber correr mais ou menos bem, nadar mais ou
menos bem ou andar de bicicleta mais ou menos bem, e isso não é nenhuma
tragédia. Mas julgo que é muito difícil exagerar a tragédia que é viver numa
sociedade de cidadãos intensamente escolarizados que sabem pensar apenas “mais
ou menos bem”.
Procurando olhar para tudo
isto de uma perspectiva objectiva e exterior aos factos (será possível?) é com
uma impressão de oportunidade desperdiçada que se fica.
Tomás Magalhães Carneiro -http://filosofiacritica.wordpress.com/