sábado, 13 de outubro de 2012

O medo de cair



O medo de cair
 Quando ensinamos uma criança a andar procuramos que supere aos poucos alguns obstáculos como a pouca força que ainda tem nas pernas, a falta de equilíbrio, ou o medo de cair. Na verdade, quanto mais tempo demorar até a criança vencer esse medo de cair mais tempo vai demorar a ganhar força nas pernas e mais tempo vai demorar a ganhar o equilíbrio que lhe permitirá ter em si a confiança necessária para arriscar dar passos atrás de passos ultrapassando distâncias e obstáculos cada vez mais difíceis.


De uma forma análoga se o primeiro obstáculo ao aprender a andar é o “medo de cair” o primeiro obstáculo ao aprender a pensar é o “medo de errar” e a muitos dos nossos alunos (à grande maioria dos nossos alunos, arrisco), nunca é dada a oportunidade de aprenderem a pensar de uma forma competente pois nunca, ao longo dos vinte e tal anos de escolarização que sofrem, lhes é dito que não há mal nenhum em cair, que errar é bom pois é a consequência de correrem um risco. Ou, se tal alguma vez lhes é dito por um professor mais voluntarioso ou generoso, à primeira oportunidade a  realidade deste sistema de ensino trata de o desmentir peremptoriamente.
. Como a criança que só anda se arriscar cair, o aluno só pensa se arriscar errar. Num sistema de ensino em que o erro não é incentivado mas, antes, é julgado e criticado quando não ignorado, é mais do que natural que os alunos evitem errar simplesmente procurando imitar aqueles que, supostamente, não erram e imitando, em última análise, o exemplar de infalibilidade que lhe é posto à frente, o seu professor.
Sim, é verdade que, de uma forma geral, todos acabamos por saber correr mais ou menos bem, nadar mais ou menos bem ou andar de bicicleta mais ou menos bem, e isso não é nenhuma tragédia. Mas julgo que é muito difícil exagerar a tragédia que é viver numa sociedade de cidadãos intensamente escolarizados que sabem pensar apenas “mais ou menos bem”.
Procurando olhar para tudo isto de uma perspectiva objectiva e exterior aos factos (será possível?) é com uma impressão de oportunidade desperdiçada que se fica.
Tomás Magalhães Carneiro -http://filosofiacritica.wordpress.com/