sexta-feira, 25 de maio de 2012

Terá Soames razão?



A filosofia analítica até 1970 se encontrava nas trevas -- identificando o analítico/sintético como o necessário/contingente e o a priori/a posteriori, além de ser concebida meramente como uma atividade de clarificação da linguagem. Mas Kripke apareceu e a luz se fez -- distinguindo esses pares conceituais (em distinções semântica, metafísica e epistêmica, respectivamente) e principalmente mostrando que há verdades necessárias a posteirori.  Desde então a filosofia pôde voltar ao seu exercício tradicional de desvendar os aspectos não empíricos -- e não meramente linguísticos -- mais importantes da realidade. Caricaturas à parte, é mais ou menos assim que Scott Soames vê o desenvolvimento da filosofia analítica até meados da década de 70 do século passado em seu Philosophical Analysis in the Twentieht Century, em dois volumes. Nem todos pensam assim. P. M. S. Hacker, distinto estudioso da filosofia analítica do primeira metade do século XX, e principalmente da filosofia de Wittgenstein, em resenha ao livro de Soames se queixa dessa imagem acusando-o de super-simplificação, omissão de trabalhos significativos, e, por isso, de não apresentar uma imagem realmente iluminante desse período da filosofia. Para desespero de Hacker, Soames (supostamente) ainda comete erros na interpretação dos trabalhos de Wittegenstein; metade de sua resenha se ocupa desses supostos erros. Na esteira de Hacker, Cristopher Pincock aponta 5 supostos erros na interpretação das teses de Russell (erros que, segundo ele, qualquer especialista na filosofia de Russell reconheceria), o que, por si só, sustenta, já seria o bastante para olharmos com certa suspeita para todo o livro. Há também críticas que apontam para o caráter ahistoriográfico do livro, para a tendência kripkiana de Soames, etc. As principais críticas (e as respostas de Soames a elas) se encontram em sua página pessoal, incluindo as repostas a Hacker e a Pincock. 


Tenha Soames cometido erros graves ou não, seu principal insight, embora certamente não dê conta de toda a história da filosofia analítica, ilumina uma parte importante dela: sem Kripke e, em grande parte por sua causa, o restabelecimento da metafísica, talvez a produção filosófica contemporânea não tivesse o sucesso do qual atualmente somos testemunhas.