quinta-feira, 15 de março de 2012

Resposta a Geach (Simon Blackburn & Alan Code)

Tradutor: Rodrigo Cid

Geach, como todos que se lembram da primeira sentença de “On Denoting” sabem, está bastante certo sobre Russel tomar como termos denotativos muitas expressões que não são o tema principal das pp. 48-50 de tal artigo. Nossa intenção é discutir aquelas que o são. A passagem em Russell é governada pela abertura na p. 44: “resta interpretar...” [it remains to interpret]. Assim, incluímos termos ou palavras aos quais a teoria bipartite de Frege se aplica, mas aos quais Russell quer forçar uma decisão entre sua teoria do tratamento das descrições e uma abordagem da referência direta, pois ele acredita que não há como abrir espaço para uma noção adicional semanticamente relevante de sentido. Nunca intentamos descrever o uso anterior desses termos por Russell. Mais controverso é o fato de tomarmos o argumento como se aplicando tanto aos nomes próprios comuns, quanto às descrições definidas. Porém pensamos que o argumento é bom para isso e explica a visão subsequente de Russell de que uma teoria de sentido e referência não pode, de nenhuma maneira, se aplicar a expressões referenciais singulares. (Em todo caso, Geach está errado ao supor que Russell tem um uso constante de “termo denotativo” que exclui nomes próprios: na p. 54 do OD, os nomes vazios [empty names] “Hamlet” e “Apolo” são tomados como nomes próprios).


Estávamos supondo que as seguintes correlações, embora não sejam perfeitas, são adequadas para o propósito de analisar essa passagem de Russell, onde o tema principal é basicamente a referência singular. Não oferecemos nenhuma visão sobre a adequação das equações fora de contexto.


Significado = Sentido = Sinn
Denotação = Referência = Bedeutung
Proposição = Pensamento = Gedanke


(É claro que, como estávamos com dificuldade de indicar, em Russell são os conceitos que denotam, mas em Frege as palavras referem.) Não vemos a razão pela qual Frege não possa concordar com o Russell do PoM em que o significado de uma expressão “A” é uma parte constituinte de cada proposição expressa por uma sentença contendo “A” (num contexto direto), e em que a denotação, caso haja, é algo que, embora seja o mesmo que A, não precisa ser o mesmo que o significado de “A”. Eles não podem, é claro, concordar em tudo; primeiramente, não concordam que “termos denotativos” são formados com o uso de “todos”, “cada”, “nenhum” e “algum”. Além disso, embora eles às vezes concordem sobre qual entidade, ou tipo de entidade, uma dada expressão insere numa proposição (i.e., no caso das descrições definidas), frequentemente eles não concordam. E quando não o fazem, eles devem também dar respostas divergentes à questão “o que é o significado?”. Eles podem discordar sobre se o significado é o tipo de coisa que tem uma denotação em correlação com ele. Por exemplo, Russell pensa que o nome próprio “John” coloca John numa proposição; Frege clama que John é o Bedeutung, mas não o Sinn. Desde que eles discordariam sobre se John é de fato uma parte da proposição, eles devem discordar sobre se John é o significado de “John”. O que Russell está chamando de significado é o objeto que Frege chama de Bedeutung.


Geach equivocadamente supõe que exemplos como esse mostram que o “significa” de Russell corresponde ao “bedeutet” de Frege. Porém, no apêndice A de PoM (476), Russell concorda com Frege que uma descrição definida tem um significado distinto do que ela bedeutet. Entretanto, no caso de nomes próprios, ele assevera que não há significado distinto da entidade chamada por Frege de denotação, e que Russell chamaria de significado. E este último, como dissemos, é uma discordância sobre se John é o significado de “John”, tal como se o pensamento de alguém fosse uma função de o que esse alguém está pensando. É claro, depois de OD, não haverá possibilidade de outra característica semanticamente importante de um nome real que não o que ele bedeutet. Essa não é uma confusão colocada dentro do argumento, mas é uma conclusão apoiada por ele.


Geach assere que, com o sentido de um nome, Frege quer dizer um uso dele. Essa interpretação é um tanto curiosa, pois Frege pensou que parte do uso de uma expressão é expressar seu sentido (“por meio de um sinal expressamos seu sentido...”, p. 61, Geach & Black), mas rotineiramente não utilizamos algo para expressar seu próprio uso. Além disso, é bastante claro que sentido de uma sentença não é seu uso, mas antes o pensamento nela contido. Ainda que obtenhamos uma compreensão sólida com a doutrina do “sentido-como-uso”, será ainda mais difícil desenvolver qualquer visão sobre o problema que estamos explorando: as conexões lógicas entre sentenças nas quais palavras referem coisas e nas quais elas referem seus sentidos. A preocupação de Russell era que Frege não seria apto a especificar os sentidos (fornecer algum modo de reconhecê-los) de maneira que essas importantes relações sejam garantidas. Talvez diferimos de Geach principalmente na suposição de que se o problema é para ser resolvido, ele o será antes cogitando do que ambulando.

Simon Blackburn and Alan Code 
1978 Pembroke College, Oxford and University of California – Berkeley


Citação: Cid, Rodrigo (2012). "Tradução de BLACKBURN, Simon & CODE, Alan (1978). “Reply to Geach”. Analysis: vol. 38, n. 4. Blog Investigação Filosófica. Artigo eletrônico acessado em xx/xx/xxxx  e encontrado em http://investigacao-filosofica.blogspot.com/2012/03/resposta-geach-simon-blackburn-alan.html.