Wittgenstein parte da dicotomia, muito comum em filosofia, entre o mundo físico e o mundo mental. Ele pensa ser algo imerso na linguagem o fato de atribuirmos predicados mentais a terceiros por meio de critério externo (como o comportamento) e de acreditarmos que temos um acesso privilegiado à nossa própria mente. O mental nem sempre corresponde àquilo que Wittgenstein chamava de “interno”, nem o físico ao que ele chamava de “externo”. O interno é aquilo que cada um tem acesso privado, mas que dele se fala com um nome da linguagem pública. Por exemplo, quando sentimos um sentimento, não podemos fazer ninguém saber como exatamente é este sentimento, mas podemos falar sobre ele com os termos gerais de nossa linguagem pública. O interno é o próprio sentimento; em termos gerais, ele é o objeto privado, acessível somente ao falante. O externo é aquilo que é subjetivamente acessível, que nem sempre é físico, no sentido estrito do termo (como a linguagem pública – que é externa, mas não propriamente física). Wittgenstein vai contra a dicotomia entre interno e externo por assimilar o mundo mental ao físico.
Ele ataca a concepção de que a mente é um domínio interno de objetos ocultos com uma contraparte física, e de que termos mentais designem objetos mentais. Com isso ele não quer dizer que a esfera mental não existe; mas que ela “encontra-se infundida em nosso comportamento e é nele que ganha expressão” (Glock, 1997, p. 218). É por meio do comportamento que podemos observar os estados mentais das pessoas, e é por meio dele também que os nossos termos mentais ganham utilidade lingüística. Os usos de nossa linguagem provêm apenas do que é subjetivamente acessível, ou seja, do que é externo. Ou seja, o mental existe, mas o interno é irrelevante no que diz respeito à linguagem.
Ele ataca a concepção de que a mente é um domínio interno de objetos ocultos com uma contraparte física, e de que termos mentais designem objetos mentais. Com isso ele não quer dizer que a esfera mental não existe; mas que ela “encontra-se infundida em nosso comportamento e é nele que ganha expressão” (Glock, 1997, p. 218). É por meio do comportamento que podemos observar os estados mentais das pessoas, e é por meio dele também que os nossos termos mentais ganham utilidade lingüística. Os usos de nossa linguagem provêm apenas do que é subjetivamente acessível, ou seja, do que é externo. Ou seja, o mental existe, mas o interno é irrelevante no que diz respeito à linguagem.
O que é geralmente objetado é que os relatos de primeira pessoa são descrições de estados mentais (ou outra coisa) e, por isso, designam os objetos de que são descrições. Wittgenstein afirma que tais proferimentos são exteriorizações da esfera interna, “análogas a reações naturais, gestos, caretas etc” (Glock, 1997, 219). A frase “Eu estou com dor” seria um substituto lingüístico para o grito, para as caretas etc (reações naturais da sensação). Quando falamos que percebemos que estamos com dor por meio de introspecção, diz Wittgenstein, estamos apenas criando metáforas físicas para falar do mental. Nós não percebemos nossas próprias sensações, nós as sentimos. Não há nada tal qual olhar para dentro si mesmo e perceber a sensação: não há um sentido interno e misterioso – a introspecção – com o qual podemos observar os objetos do mundo mental; nós apenas pensamos e sentimos coisas.
Pensando nos sentimentos e na linguagem, Wittgenstein afirma que, dado o modo como cotidianamente usamos “saber”, terceiros podem saber que outra pessoa tem dores. Por exemplo, um caso onde vejo uma pessoa gritando por terem-lhe cortado a perna a machadadas certamente é um caso onde sei que outro tem dores. Posso não saber em todo caso se outros têm ou não dores, mas há casos onde de fato sabemos, pensa Wittgenstein. E sabemos, não porque inferimos tal coisa, mas porque vemos que ele tem dores. E vemos tal coisa porque dada a situação, dados os gemidos e gritos do perneta, dada a quantidade de sangue saindo etc (ou seja, dado o externo), aquela é uma situação onde usamos a frase “ele tem dores”. E mesmo que existisse um caso onde alguém estivesse fingindo, ele só poderia fingir porque há um jogo de linguagem onde a sinceridade é pressuposta. Ela é pressuposta porque não vemos os objetos privados das pessoas, mas vemos seus comportamentos; donde, nossos termos só poderiam surgir e ter o uso que têm a partir dos comportamentos das pessoas realmente expressar o que elas sentem. Quanto a mim mesmo, Wittgenstein diz que não posso saber que tenho dores. Isso porque não é possível estar errado sobre isso, e porque se me perguntassem como sei que tenho dores, eu só poderia dizer que sei porque sinto, o que seria dizer “tenho dores porque tenho dores”. Sobre a nossa incerteza com relação a algumas predicações de sentimentos sutis, Wittgenstein nos diz que elas advêm de nossa forma de vida ser bastante complexa: podemos não estar certos sobre se ele está com uma tristeza melancólica ou se ele está com uma tristeza depressiva – dada as complexidades das situações onde nos seria lícito utilizar tais conceitos.
As críticas de Wittgenstein vão contra não apenas a perspectiva mentalista, mas também a que afirma que predicações mentais são descrições de estados neurofisiológicos. Wittgenstein pensa ser plausível que estados psicológicos sejam estados neurofisiológicos, mas não que proferimentos psicológicos sejam descrições de estados neurofisiológicos. Não descrevo meu cérebro ao falar “eu tenho dores”, pois posso estar em dúvida sobre se minhas fibras-C estão disparando, mas não posso estar em dúvida sobre se tenho dores. Wittgenstein também afirma que não precisa haver necessariamente um paralelismo entre o físico e o mental; por exemplo, “querer dizer” é um termo mental que não corresponde a nenhum estado neurofisiológico, pois ele não tem duração genuína, enquanto qualquer estado neurofisiológico tem. E ainda, mesmo com relação a sentimentos específicos como a dor, é sempre logicamente possível que não haja um estado neuro-fisiológico correspondente; o que mostra que não há ligação conceitual entre termos mentais e termos neurofisiológicos. “Os conceitos neurofisiológicos não desempenham qualquer função no modo como explicamos e aplicamos os termos mentais: utilizações de termos mentais feitos em terceira pessoa baseiam-se em critérios comportamentais; usos em primeira pessoa não se baseiam em critério algum, e muito menos em critérios neurofisiológicos” (Glock, 1997, p. 222).
Exteriorização
Wittgenstein pensa que as sentenças psicológicas na primeira pessoa e no tempo presente são exteriorizações da esfera mental, assim como um franzir de testa ou um grito de dor. Elas substituem as manifestações naturais da esfera mental: ambas possuem a mesma função lógica. Por isso, ele nega que tais sentenças sejam descrições de objetos mentais privados dentro de um domínio interno. Como Wittgenstein abraça o verificacionismo – a tese de que uma proposição carece de sentido se não puder ser verificada de modo conclusivo – ele percebe que o modo de verificação de sentenças psicológicas na primeira pessoa difere do na terceira pessoa, e percebe também que essa distinção não ocorre nas predicações não-psicológicas. A diferença de método de verificação entre as sentenças psicológicas de primeira e terceira pessoas está no ponto de que as de terceira pessoa são verificadas por algo externo (o comportamento), enquanto não há método de verificação para as de primeira pessoa. E não há método de verificação não porque poderia haver algum, mas não há; mas porque tais sentenças (psicológicas na primeira pessoa) não são possíveis de serem verificadas, pois não são descrições – que podem ser verdadeiras ou falsas – e, por isso, não pretendem ao conhecimento.
Para Wittgenstein, as sentenças psicológicas na primeira pessoa e no presente são apenas exteriorizações de uma esfera mental. Ele pensa assim, pois rejeita as duas respostas possíveis para “como você sabe que tem dores?”. As respostas são: dizer que sabemos porque sentimos e dizer que sabemos por introspecção. Com relação à primeira, “ter dores” é “sentir dores”; dizer que sabemos que temos dores porque sentimos as dores é o mesmo que dizer que sabemos que temos dores porque temos dores. Isso é circular. Com relação à segunda, para haver introspecção com relação às dores, teríamos que olhar para dentro de nós mesmos e ver se estamos ou não com dor, quando sentimos uma dor. Mas quando sentimos, sentimos: não há possibilidade de olharmos para dentro e repararmos que não estamos com dores, caso a sintamos. Portanto, não há introspecção envolvida. “Eu sei que tenho dores” ou carece de sentido ou reafirma a sentença “eu tenho dores”. E é por isso que sentenças psicológicas na primeira pessoa e no tempo presente não podem ser descrições de um domínio privado; elas são, segundo Wittgenstein, expressões (exteriorizações) da esfera mental. O ponto distintivo das exteriorizações com relação às descrições é que as primeiras são análogas às expressões naturais de sensações e outras formas não-lingüísticas de comportamento.
Wittgenstein admite que frases como “eu tenho dores” podem ser usadas em contextos descritivos e inseridas em raciocínios lógicos – como em “eu tenho dores; logo, alguém tem dores” – e, portanto, podem ser verdadeiras ou falsas (de acordo com a sinceridade do falante) no que diz respeito à lógica formal. Mas quanto à gramática filosófica, se o falante estivesse sendo sincero, não haveria possibilidade de erro. Assim, embora “eu tenho dores” (e quaisquer outras exteriorizações) possa ser usada descritivamente, faltam-lhe características essenciais de uma descrição ordinária. Então, “a visão baseada no dualismo interno/externo é equivocada por sugerir que ‘extraímos’ de fatos internos descrições de nossas sensações, desejos, pensamentos etc” (Glock, 1997, p. 157).
Privacidade
A dita privacidade da esfera mental é entendida de duas maneiras na tradição filosófica: 1) como propriedade privada, e 2) como epistemicamente privada. 1 significa que ninguém pode sentir a minha dor; podem no máximo sentir algo semelhante. E 2 significa que só eu posso saber que tenho dores; os outros podem apenas presumir que a sinto, com base em meu comportamento. Wittgenstein pensa que essa é uma noção equivocada. Ele pensa que frases como “sensações são privadas” ou “outra pessoa não pode ter minha dor” são ou regras lingüísticas para explicar que o termo “minha dor” deve ser utilizado para falar da dor que tenho, ou requisições de respeito à autoridade dos relatos psicológicos de primeira pessoa no presente. Para Wittgenstein, não faz sentido supor que minha dor poderia pertencer a outra pessoa; portanto, seria trivial falar que a minha dor me pertence e não pertence a mais nenhum outro.
Ele acredita também que frases como “outra pessoa não pode ter a minha dor” não se coadunam com nossas atribuições de dor, pois frequentemente dizemos que temos a mesma dor que outro quando as características fenomênicas de nossas dores são as mesmas. Frege não concordaria com Wittgenstein. Frege afirma que não temos a mesma dor numericamente, embora qualitativamente tenhamos a mesma, assim como o vermelho particular dessa cadeira pode ser qualitativamente idêntico a outro, mas não numericamente idêntico: “pela lei de Leibniz, a diferença na localização implica diferença numérica” (Glock, 1997, p. 284). Wittgenstein responde que seguindo esse pensamento, deveríamos falar que gêmeos siameses, onde a cabeça de um é conectada às costas do outro e onde há um foco de dor nessa conexão, sentem a mesma dor; mas esse não é o caso: um sente dor nas costas e o outro na cabeça. E, contrariamente, no caso de duas pessoas que sentem as mesmas características fenomênicas de dor no mesmo lugar sentem ambas a mesma dor. “Não é com base em coordenadas espaciais que localizamos as dores; referimo-nos, isso sim, a partes do corpo de quem as sofre” (Glock, 1997, p. 284). E o “mesmo” da dor terá a ver com isso, e não com a sua coordenada espacial.
Wittgenstein nos lembra também que ao falar que eu tenho uma dor completamente diferente da sua, não tratamos mais “ter uma dor” como uma predicação de propriedade; tratamo-la como se fosse um objeto particular, e tratamos o objeto particular como se fosse uma propriedade de “ter uma dor”. A identidade numérica só pode ser asserida para que algo que seja um particular, e não para algo que seja uma propriedade. A tese da propriedade privada faz justamente o oposto. Ela não leva em conta que “ter objetos físicos e ter dores são coisas categorialmente distintas” (Glock, 1997, p. 284). Se duas pessoas numa sala tivessem dor de cabeça, não diríamos que há duas dores de cabeça na sala: “ter dor de cabeça” é claramente tratado na linguagem como uma predicação de propriedade, e não como um indivíduo particular.
E, pensando sobre a noção de privacidade epistêmica – a saber, “só eu posso saber que tenho dores; os outros podem apenas presumir que a sinto” – Wittgenstein chega também a uma conclusão estarrecedora. A de que posso saber o que o outro está pensando/sentindo baseado em critérios comportamentais, mas não o que eu mesmo estou pensando/sentindo por não aplicar a mim mesmo nenhum critério. Ele pensa assim, pois acredita que para utilizarmos legitimamente o termo “saber”, deve ser possível para quem o utiliza responder a questão “como você sabe?”; e isso não é possível para aquele que sente a dor. Porque se respondesse que é porque sente, dado que ter uma dor é sentir uma dor, estaria caindo no ciclo vicioso de dizer “sei que estou sentindo dor porque estou sentindo dor”; e se respondesse que sabe por introspecção, estaria sujeito a todas as críticas que Wittgenstein lança a uma faculdade da introspecção pela qual observamos as dores que sentimos. Não olhamos para dentro de nós mesmos para ver se estamos ou não com dor. Quando sentimos dor, não podemos nos observar e descobrir que estávamos enganados. Se não podemos duvidar e nem estar enganados sobre a dor que sentimos, também não faz sentido falar que sabemos dela, pois para saber, é preciso haver a possibilidade de não saber. Wittgenstein pensa que frases como “sei que tenho dores” ou são destituídas de sentido, ou são sentenças gramaticais (regras lingüísticas) utilizadas para dar ênfase a “eu tenho dores”, para requisitar o respeito à autoridade dos relatos psicológicos de primeira pessoa no presente, ou para algum outro objetivo semelhante. “O que há de verdadeiro na noção de privacidade epistêmica é a autoridade da primeira pessoa: estou em posição de dizer o que sinto, experimento, penso, não porque tenha um acesso infalível a uma espécie de cineminha privado, mas porque o que digo, ao contrário daquilo que os outros dizem de mim, é (tipicamente) uma exteriorização, uma expressão ou manifestação não fundamentada de algo interno” (Glock, 1997, p. 287).
Argumento da Linguagem Privada
Uma linguagem privada seria uma linguagem que não é possível de ser entendida por outro que não o falante devido ao fato de seus termos designarem objetos privados do próprio falante. No argumento da linguagem privada, Wittgenstein investiga a possibilidade de tal linguagem, chegando à conclusão de que a noção de uma linguagem privada é incoerente e a de que nosso vocabulário psicológico não é privado, embora isso não implique que a esfera mental seja irreal. Esse argumento vai contra duas pressuposições – a idéia de que o significado das palavras é dado pelo objeto que elas substituem e a de que os termos psicológicos substituem objetos privados – e contra as duas noções de privacidade explicitadas no tópico anterior. Se ninguém sabe se tenho dor, se ninguém pode sentir minha dor, se o significado das palavras é dado pelo objeto que ela substitui e se tal objeto é um objeto privado, segue-se que ninguém mais pode saber o que quero dizer com “dor”. Mas, diz Wittgenstein, para poder usar um termo, temos de pressupor uma comunidade de falantes aptos a utilizar esse termo; logo, só poderíamos falar com sentido sobre “dor” se tal termo não designasse um objeto interno que apenas o falante tem acesso.
A conclusão wittgensteiniana de que uma linguagem privada é impossível pressupõe uma noção da linguagem: a de que a linguagem é guiada por regras gramaticais (que são padrões de correção) e a de que para um signo ser utilizado com alguma função lingüística, é necessário que haja uma determinada uma regra para a sua utilização. Wittgenstein pensa que numa linguagem privada não é possível estabelecer tais regras, pois, no uso das palavras, o falante privado não pode ser corrigido por algo externo – já que tal linguagem falaria apenas de objetos acessíveis somente ao falante – e não teria um critério interno de correção. Ou seja, se tentássemos estabelecer um símbolo para representar um objeto interno, não teríamos critérios para aplicarmos corretamente o símbolo. Isso mostra que “uma linguagem que seja em princípio ininteligível para qualquer um que não seja aquele que a fala não só é (trivialmente) inadequada para a comunicação, como é também ininteligível para o lingüista privado” (Glock, 1997, p. 232).
Sobre não ter critérios de correção internos, embora pareça, Wittgenstein não apela para uma visão cética com relação à memória. Pois se o fizesse, traria tal ceticismo para dentro também da linguagem pública, e tornaria a existência de uma linguagem pública também impossível. Ele só quer dizer que a memória não dá critérios de correção; nela, tudo que parece correto é correto. No entanto, numa linguagem pública podemos ser corrigidos pelos outros falantes, enquanto isso não ocorre numa linguagem privada. Nesta última, por mais que tentemos estabelecer regras, os padrões estabelecidos nunca poderão ser verificados: pode ser o caso que a cada verificação mudemos a regra utilizada – o lingüista privado não tem como saber. Padrões que não servem para diferenciarmos aplicações corretas das incorretas não existem.
Wittgenstein pensa que não pode haver definição ostensiva privada – o que o defensor da linguagem privada gostaria de asserir que há –, pois a categoria que um objeto se subsume numa definição ostensiva (na pública, por exemplo) deve ser previamente determinada a fim de que saibamos para o que estamos apontando. Ou seja, ao apontarmos para uma cadeira roxa, para que entendam que apontamos para o roxo, e não para a cadeira como um todo ou para o material da cadeira, a categoria da cor deve ser pré-determinada como o enfoque da definição ostensiva. Um falante privado para poder se indicar que está apontando para uma sensação, teria que usar um termo da linguagem pública, “sensação” (que se define com base em critérios comportamentais); que ele não teria acesso como lingüista privado. Sem termos para categorizar o que sente – que, segundo Wittgenstein, pertencem todos à linguagem pública – o lingüista privado não consegue critérios de identidade do objeto que ele quer representar com um signo para que possa utilizá-lo em casos posteriores.
Enfim, Wittgenstein pensa que, como a linguagem é algo socialmente construído, os objetos internos são semanticamente irrelevantes: “em um jogo de linguagem em que todos possuam uma caixa e se refiram a seu conteúdo como ‘besouro’, mas ninguém tenha acesso ao conteúdo das caixas dos outros, os conteúdos da caixa e sua natureza serão irrelevantes para o significado de ‘besouro’” (Glock, 1997, p.234). Irrelevantes para a construção dos significados dos termos, mas isso não significa que eles não existam, mas apenas que não há critérios de identidade para eles. O mesmo ocorre com os objetos privados. O falante não pode rastrear tais objetos e nem deles falar. Assim, sensações não são objetos de tal tipo: elas não podem ser compreendidas como entidades privadas. Os objetos privados são “semântica e epistemicamente irrelevantes, já que não nos fornecem nem o sentido de nossos enunciados e nem as evidências para eles” (Glock, 1997, p. 235). Aprendemos os termos para sensações como “dor” a partir de comportamentos alheios ou para servir de substituto para uma expressão natural de sensação. Ter apenas a experiência da dor como um fenômeno privado não garante a aptidão no uso da expressão, enquanto ter aprendido a partir dos comportamentos garante.