Neste artigo falo de algumas noções básicas sobre a verdade e defendo que um certo tipo de relativismo com relação à verdade é insustentável. Para tal, faço uma distinção entre o que chamamos de teoria metafísica da verdade e o que chamamos de teoria epistemológica da verdade, mostrando que podemos atingir verdades genuínas. Depois indico que as afirmações que negam ou relativizam a verdade são auto-contraditórias e não têm recursos para responder objeções. Disso, concluo que o relativismo da verdade não é uma tese que deva ser levada a sério, pois sua asserção é simplesmente a expressão de um sentimento ou atitude com relação às afirmações, e não uma posição dentro de um debate.
Palavras-chave: Relativismo. Verdade. Metafísica e Epistemologia.
Palavras-chave: Relativismo. Verdade. Metafísica e Epistemologia.
At this article, I speak of some basic notions about truth and defend that a certain kind of relativism about truth is unsustainable. For such, I distinguish what we call a metaphysical theory of truth from an epistemic theory of truth, showing that we can attain genuine truths. After that, I indicate that the assertions that negates or makes the truth relative are self-contradictory and have no resources to answer their objections. From this, I conclude that the relativism about truth is not a thesis we must take it with seriousness, because asserting it is just the expression of a feeling or attitude to the assertions, and not a position at a debate. Key-words: Relativism. Truth. Metaphysics and Epistemology.
Introdução
Rotineiramente afirmamos e negamos coisas. Fazemos isso por meio de frases numa determinada língua. E daquilo que falamos sobre as coisas dizemos que é verdadeiro ou falso. Mas o que faz nossas frases serem verdadeiras ou falsas? O que nos faz considerar uma frase verdadeira ou falsa? Essas são duas perguntas que, por mais que pareçam semelhantes, diferem substantivamente e nos fazem percorrer trilhas diferentes, mas interligadas, no que diz respeito à formulação de uma teoria da verdade. A primeira dessas perguntas é uma pergunta metafísica sobre quando uma frase é verdadeira, independente de a considerarmos verdadeira ou falsa; e a segunda é uma pergunta epistemológica sobre quando consideramos uma frase verdadeira, independente de ela ser de fato verdadeira ou falsa. Quando nos perguntamos sobre algo ser verdadeiro, queremos saber sobre a existência de coisas que façam nossas frases serem verdadeiras ou falsas. E quando nos perguntamos sobre como consideramos as frases verdadeiras, perguntamo-nos sobre os meios que utilizamos para conhecer as coisas e se eles são bons meios.
Por exemplo, se afirmo que está chovendo agora e me pergunto metafisicamente sobre a verdade dessa frase, quero saber se há algo independente da minha mente que faça essa frase ser verdadeira no momento que eu a afirmo. A resposta seria dizer que a chuva estar ocorrendo no momento e no lugar que eu proferi a frase, independente da minha mente, é o que faz a frase ser verdadeira. Por outro lado, se afirmo que está chovendo agora e me pergunto epistemologicamente sobre a verdade dessa frase, quero saber como fazemos para conhecer que essa frase é verdadeira. E a resposta seria dada em termos de similaridade no aparelho perceptivo das pessoas ou algo semelhante. Daí, podemos ver que é clara a diferença entre as abordagens metafísica e epistemológica da verdade.
A interseção entre elas é o conceito de conhecimento: embora saber algo seja uma atitude de um agente cognitivo frente a uma sentença, “saber” só pode ser justificadamente asserido para esse agente se ele tiver acessado o que é verdade independente de sua atitude. Essa diferença se dá, pois nós temos diversas formas de descobrir se uma sentença é verdadeira ou falsa, e às vezes essas formas não são perfeitas. Portanto, muitas das coisas que dizemos saber ou conhecer não sabemos de fato. Do pensamento de que há uma série de barreiras para conhecermos as coisas, o relativismo quer negar que exista algo que seja verdadeiro ou quer dizer que verdadeiro é o que as pessoas consideram verdadeiro. Contudo, do pensamento de que algumas de nossas formas de verificar se uma sentença é verdadeira não são perfeitas, não parece se seguir que não há verdade, embora tenhamos margens para afirmar que não alcançamos a verdade sobre o assunto da frase em questão.
Verificando a verdade de uma sentença
Porém, nem todas as nossas formas de descobrir se uma frase é verdadeira ou falsa são imprecisas. Por exemplo: suponhamos que eu afirme a frase “eu tenho um nariz”. Se alguém me perguntasse se é verdade que eu tenho um nariz, eu falaria que sim. Se, ainda, me perguntassem como eu sei que tenho um nariz, eu lhe apontaria meu nariz e diria “você não está vendo? Aqui está o meu nariz!”. Então, eu teria lhe provado que é verdade que eu tenho um nariz[1]. Pois não poderia ser o caso de eu sempre saber onde está o meu nariz sem que seja verdade que o nariz que estou apontando esteja lá.
Meu adversário filosófico poderia retrucar ou que a verdade da sentença depende do que se quer dizer com cada um dos termos, ou que não temos acesso à realidade de fato e, portanto, não podemos falar de verdade de sentenças. Essas duas posições baseiam-se num equívoco com relação ao modo que as palavras fazem referência aos objetos ou com relação ao uso da tese kantiana da coisa em si, respectivamente.
Para responder a primeira objeção, eu simplesmente falaria que eu quero dizer o que normalmente se quer dizer com os termos usados, ou seja, eu diria que: com “eu” refiro a mim mesmo [e daí apontaria para mim]. Com “tenho” quero dizer que “está presente em meu corpo”. E com “nariz” eu quero dizer algo da espécie deste nariz [apontando para o meu nariz]. Assim, torna-se claro que a frase “eu tenho um nariz” é verdadeira.
O adversário poderia dizer, então, que “eu não sei se eu tenho realmente um nariz”. Eu entenderia essa sentença como pressupondo a distinção kantiana entre fenômeno e coisa-em-si. Daí eu diria, que ele está duplamente enganado. Pois se eu aceitasse essa distinção, eu poderia falar que estou sempre falando de fenômenos, e que a verdade da minha frase depende apenas do devido fenômeno se conformar a ela. Mas isso teria o efeito de nos impedir de falar das coisas como elas realmente são. Então, a segunda coisa que faria seria dizer que afirmar que “não podemos ter conhecimento daquilo que é coisa-em-si” é uma sentença auto-contraditória, pois afirma sobre a coisa em si que dela nada podemos conhecer, embora isso seja um conhecimento da coisa-em-si.
Penso, então, que temos que restringir a distinção entre fenômeno e coisa-em-si. Devemos falar que aceitamos somente que não será possível, para quem capta a realidade pelos sentidos, ver a coisa-em-si, embora seja possível ter conhecimento dela. Esse é o caso quando sabemos, por exemplo, que é verdade que o ser humano em si mesmo é capaz de pensar.
Neste ponto, talvez, não haja mais dúvidas sobre quando nossas sentenças sobre nossas percepções imediatas são verdadeiras e quando elas são falsas. Elas são verdadeiras quando concordam com nossas percepções imediatas e falsas quando não concordam. Mas não é apenas este tipo de sentença, facilmente verificável, que perturba nossa mente quando falamos sobre a verdade das sentenças. O que nos perturba, tanto quanto perturba o relativista são as sentenças que não temos como verificar. Vou dar um exemplo a seguir.
Sem a verificação da verdade de uma sentença
Vamos supor uma conversa entre F e G sobre se a Terra é achatada ou arredondada. F defende que é achatada e G defende que é arredondada. Suponhamos também que a conversa deles verse sobre o fenômeno da Terra, e não sobre como a Terra é independente da nossa percepção. Como descobriremos, então, se as sentenças de F e G são verdadeiras ou falsas? Caso F e G ainda não tenham visto a Terra de fora, eles darão justificações racionais para suas posições, donde a justificação que mais se adequar ao quadro geral de explicação do mundo será considerada verdadeira. Caso eles já tenham visto a Terra de fora, a explicação que mais coincidir com nossa percepção e com nosso quadro geral de explicação será considerada verdadeira. Mas uma sentença como essa ser considerada verdadeira, sem que a Terra tenha sido vista por alguém, não significa que ela seja de fato verdadeira. Pode muito bem ser o caso que, embora nossas intuições nos indiquem que a Terra é plana e que o nosso quadro conceitual diga que a Terra é plana, nos fazendo considerar que é verdade que a Terra é plana, ela não seja. Assim, pode ser que consideremos que é verdade que a Terra é plana, enquanto de fato ela não é. O que mostra que podemos estar errados no que consideramos verdade; mas isso também faz com que só possamos estar errados por causa de alguma outra coisa que é verdade. Se não houvesse algo que é verdade, nunca poderíamos estar errados.
Disso uma objeção pode ser feita: que consideramos estar errados porque consideramos outra coisa como verdade, mas de fato, assim como não sabíamos o que era verdade antes, assim continuamos sem saber. A objeção seguiria dizendo que, portanto, não há motivo para aceitar um conceito metafísico de verdade, e que deveríamos apenas aceitar um conceito epistemológico, aceitando também um consequente relativismo sobre a verdade (negando que a verdade exista ou dizendo que chamamos de verdade o que consideramos ser verdadeiro).
Acredito que aí haja uma precipitação. Para aceitar essa objeção sem nenhuma ressalva, deve-se aceitar um ceticismo extremo com relação ao conhecimento, ou seja, deve-se pressupor que não podemos saber nada ou que, pelo menos, não podemos saber nada que não seja analítico[2]. E outro problema que se encontra nessa posição extremista é que ela pensa que considerar é tudo que fazemos; e isso não leva em conta nem o significado nem o que fazemos quando falamos sobre considerar.
Considerar, saber e os valores de verdade
Considerar que uma sentença é verdadeira é algo próximo a “achar com proximidade à certeza que uma sentença é verdadeira”, e isso é diferente de “saber que uma sentença é verdadeira”. Nós sabemos que uma sentença é verdadeira quando não não podemos estar enganados sobre ela; e nós consideramos que uma sentença é verdadeira quando as justificações nos levam a acreditar que ela é verdadeira mas podemos estar enganados. Se “X” é uma sentença, “saber que X é verdade” é um acesso ao valor de verdade de uma sentença, e “considerar que X é verdade” é supor o valor de verdade de uma sentença. O ponto que o relativismo não leva em conta é que podemos muitas vezes estar enganados, mas às vezes não estamos.
Dado o que foi dito anteriormente, se nos perguntarmos algo como “é verdade que eu tenho cinco dedos em cada uma de minhas mãos agora?”, teríamos que responder que é verdade, pois de fato agora tenho cinco dedos em cada uma de minhas mãos. Dado todo o estado de coisas, que engloba o fato de eu ter cinco dedos em cada uma de minhas mãos agora, ninguém poderia estar enganado ao dizer que eu – “eu” refere o autor deste texto – tenho cinco dedos em cada uma de minhas mãos agora. Logo, eu sei que é verdade que eu tenho cinco dedos em cada uma de minhas mãos agora, ou seja, eu conheço o valor de verdade metafísico dessa sentença. Na verdade, não só eu, mas todos que possam comprovar por si mesmos. E daí, obviamente, consideramos ser verdade o que sabemos ser verdade. Assim, quem não teve a chance de verificar até não restar mais chance de estar enganado pode apenas considerar, e não saber. Mas mesmo que alguém considere que seja falso que eu tenha cinco dedos em cada uma de minhas mãos agora, isso não fará com que eu não tenha cinco dedos em cada uma de minhas mãos agora.
Tendo esclarecido essas coisas, vale a pena lembrar a objeção: “consideramos estar errados porque consideramos outra coisa como verdade, mas de fato, assim como não sabíamos o que era verdade antes, assim continuamos sem saber e, portanto, não há motivo para aceitar um conceito metafísico de verdade, deveríamos apenas aceitar um conceito epistemológico, aceitando também um consequente relativismo sobre a verdade”. A resposta é que embora possamos trocar uma consideração por outra, não é o caso que sempre fazemos isso; e quando o fazemos, aceito que não temos motivos para dizermos que sabíamos. Mas há coisas que sabemos e coisas que consideramos! E é pelo fato de existirem coisas que sabemos e coisas que consideramos, que devemos dizer que há a verdade sobre se uma sentença X é verdadeira ou falsa. É por haver algo independente de nossas considerações que podemos saber quando estamos considerando e quando estamos sabendo: sabemos quando podemos justificar X com o fato de não podermos estar enganados sobre X; e se não podemos estar enganados sobre X, então é verdade que X (embora, muitas vezes, falemos que algo que não sabemos é verdade).
Dessa forma, também não podemos abandonar o conceito metafísico de verdade, pois se não, não poderíamos falar que alguma sentença é verdadeira independente de o que alguém considera sobre o seu valor de verdade e nem poderíamos falar que alguma sentença é falsa. O valor de verdade de uma sentença seria inteiramente dependente de o que consideramos. Isso faria com que não pudéssemos afirmar que são verdadeiras aquelas frases que sabemos serem verdadeiras e faria com que nunca estivéssemos errados. Em outras palavras, se uma pessoa estivesse alucinando sobre algo, não poderíamos dizer que ela está alucinando, e suas sentenças sobre essas alucinações teriam que ser consideradas verdadeiras ao mesmo tempo que cada pessoa que não estivesse alucinando as consideraria falsas. O relativista do tipo que descrevi teria que aceitar todas as considerações como verdadeiras, caindo assim em contradição.
O debate filosófico sério e a restrição da contradição no discurso
Mas o que fazer sobre a discordância de considerações? Como uma teoria que afirma que tudo são considerações ou perspectivas, ou que não há verdade, pode ela própria pretender afirmar algo verdadeiro? Se tudo são perspectivas ou narrativas (como as formas atuais de relativismo de que estou falando), por que deveríamos acreditar na tese de que verdadeiro é o que consideramos verdadeiro, e não na sua negação? A escolha pela primeira, o relativismo com relação à verdade, baseia-se numa confusão entre o que consideramos ser verdade e aquilo que é verdade, e na aceitação de uma tese um tanto implausível, a saber, “se não temos acesso à verdade de algumas frases, então não há frase que seja verdadeira”.
Se alguém afirmar o relativismo com relação à verdade, estará comprometido a não discordar de ninguém, inclusive se o que for falado for a negação de alguma perspectiva ou narrativa do relativista. Isso é assim, pois a perspectiva de uma outra pessoa pode ser o contrário da perspectiva do relativista – como é a minha posição – e o relativista não poderia pretender que qualquer coisa que qualquer um afirmasse fosse verdadeira; tendo que aceitar que a posição de seu objetor é tão verdadeira quanto a sua.
Entretanto, qualquer posição num debate sério pretende ser verdadeira. Isso não é muito difícil de perceber. Todas as pessoas que se propõem a resolver um problema, principalmente um problema filosófico, estão tentando descobrir a verdade sobre algo. Portanto, qualquer coisa afirmada nas teses que tentam solucionar um problema devem pretender à verdade para que de fato sejam uma solução para o problema. Se um discurso não pretende à verdade, como as ficções ou romances, ele não deve ser levado a sério na procura da verdade. Por exemplo: como os quadrinhos Sandman[3] não pretendem à verdade, não o tomamos como uma tentativa de descobrir a verdade sobre algo. Por isso, o relativismo com relação à verdade não consegue entrar num debate filosófico sério; ele não consegue nem mesmo ser uma posição dentro de um debate. Não consegue, pois: não pretende à verdade, é auto-contraditório e se impede de resolver quaisquer discordâncias surgidas a partir de sua aceitação.
Então, concluo que o relativismo com relação à verdade não é e não pode ser uma posição filosófica, mas assemelha-se muito à expressão de sentimentos ou atitudes frente às afirmações. Munido com a falta de pretensão à verdade, com a falta de fundamentação racional e com a falta de recursos para lidar com as objeções, tudo que o relativismo com relação à verdade nos parece é um romance surrealista. E, dentro do campo da filosofia, que busca a verdade de certos problemas, o que nos cabe é desconsiderá-lo por não cumprir os requisitos para ser uma posição num debate sério.
Conclusão
Enfim, da distinção entre as abordagens metafísica e epistemológica da verdade, percebemos que não poderia ser o caso de não haver algo que fosse verdade independente do que considerássemos verdade. Daí, demos exemplos do que seria uma verdade sobre fenômenos e mostramos que essas verdades podiam ser verificadas como tal. Mostramos também que o uso relativista da tese kantiana que afirma que não podemos conhecer a coisa-em-si não funciona, pois ele própria propõe um conhecimento das coisas em si mesmas, como por exemplo, quando falamos que não podemos conhecer a coisa-em-si. Em seguida, mostramos que para saber alguma coisa ou para afirmar verdadeiramente essa coisa, ela tem que ser verdade. Supor que não há verdade ou que verdade é aquilo que consideramos verdade é simplesmente não levar em conta a diferença entre considerar e saber, e implica que nenhuma pessoa está errada. Assim, o relativista não pode discordar daqueles que defendem teses opostas. E se ele aceita as teses opositoras, então ele fere a lei da não-contradição. O problema disso é que a contradição trivializa a teoria, ou seja, a partir dela pode se seguir qualquer coisa; e posições num debate sério defendem uma coisa e não outra. Isso nos levou a concluir que o relativismo com relação à verdade não é realmente uma posição num debate sério. Enquanto ele tem a aparência de uma, por asserir uma frase com formato de tese, ele não possui o conteúdo relevante para ser considerado uma, pois uma posição num debate sério não afirma teses contraditórias. A afirmação relativista é apenas a expressão de um sentimento ou atitude; e, portanto, deve simplesmente ser desconsiderada num debate filosófico sério.
Apêndices
O Argumento do Sonho e a Verdade das Frases
Resolvi colocar ainda mais uma argumentação no final do texto, pois é evidente que o meu adversário relativista poderia dizer que, em última instância, não podemos saber se estamos sonhando e, portanto, não podemos saber de verdade nenhuma. O que faria deixar de haver verdades, segundo ele. Meu pensamento quanto a isso é o seguinte: mesmo que estivéssemos sonhando ou alucinado, não haveria motivos para não haver verdades sobre as coisas que estivéssemos sonhando ou para não conseguirmos atingir verdades sobre os nossos sonhos. Podemos supor duas coisas, caso aceitemos que estamos sonhando: que estamos em um sonho individual ou que estamos num sonho coletivo. Qualquer que seja a coisa suposta, diremos, por exemplo, que as verdades de frases sobre percepções sonhadas, dependeria da concordância da percepção dos personagens do sonho.
Sobre frases de conteúdo mais complexo, como alguma afirmação sobre a natureza do mundo do sonho, poderíamos aceitar que não sabemos se elas são verdadeiras caso não as verifiquemos, mas não diríamos que não há verdade sobre a natureza do mundo dos sonhos. O mundo dos sonhos pode ser modificado pelo sonhador ou não pode. Uma dessas coisas é verdade, embora possamos nunca saber.
O que quero dizer com toda essa conversa sobre mundo dos sonhos é que, sonhando ou acordado, se me pergunto se tenho nariz ou se está chovendo, há uma forma de verificar a verdade de tais frases. E se me pergunto sobre assuntos mais complexos, terei que investigar racionalmente ou de qualquer outra forma. Assim, por mais que eu acabe me respondendo que não sei como saber a verdade sobre essas perguntas (ou pior, que me responda que é impossível saber a verdade sobre tais perguntas), não poderia dizer que não há algo que é verdade sobre tais assuntos. Por isso, não importa saber se estamos sonhando ou não, o que importa é que há verdades e que podemos saber algumas delas (as que podemos verificar), que não podemos saber outras e que outras simplesmente não sabemos se sabemos.
Relativismo Geral e Relativismo Parcial
Quero esclarecer mais um ponto, que não abordei no curso normal do artigo, pois me parecia claro que em todo o texto eu estivesse falando de um tipo de relativismo geral, que afirma sobre todas as verdades que elas são relativas. É claro que é muito difícil de encontrar alguém que defenda tal sentença, mas como há a possibilidade de alguém afirmar essa contradição, pareceu-me interessante escrever este artigo.
Relativismo Geral e Relativismo Parcial
Quero esclarecer mais um ponto, que não abordei no curso normal do artigo, pois me parecia claro que em todo o texto eu estivesse falando de um tipo de relativismo geral, que afirma sobre todas as verdades que elas são relativas. É claro que é muito difícil de encontrar alguém que defenda tal sentença, mas como há a possibilidade de alguém afirmar essa contradição, pareceu-me interessante escrever este artigo.
Afirmar que todas as sentenças são relativas é o mesmo do que afirmar que a verdade de todas as sentenças depende de o que cada pessoa considera sobre a verdade de cada sentença. E, se dizemos que a verdade da sentença depende de o que, por exemplo, uma pessoa considera sobre o valor de verdade da sentença, então estamos falando que não há verdade sobre a sentença. Minha tese é que não podemos defender que todas as sentenças são relativas, ou seja, que não há nenhuma verdade. Isso faria com que afirmar uma frase dessas não poderia ser uma tese. E, se atentarmos bem, a afirmação relativista geral pareceria mais com um paradoxo do que qualquer outra coisa: “nenhuma frase é verdadeira”, ou “todas as frases são relativas”, é tão paradoxal quanto dizer “esta frase não está escrita”.
Entretanto, é possível que alguém queira defender que alguma área de nosso discurso é relativa, ou seja, que não há verdade sobre a área em questão. Isso é muito comum ocorrer em áreas como ética, direito, estética, entre outras. E não são problemas para quem defende algum tipo de relativismo parcial os argumentos que apresentei, pois eles podem aceitar que há áreas onde há verdade e áreas onde não há; e isso eu também posso aceitar. Assim, não tentei enfrentar neste artigo nenhum tipo de relativismo parcial, mas somente o relativismo geral da verdade.
Referências
CRITCHLEY, Simon. Continental Philosophy: a very short introduction. Oxford: Oxford University Press, 2001.
CRITCHLEY, Simon. Continental Philosophy: a very short introduction. Oxford: Oxford University Press, 2001.
MARTINICH, Aloysius; SOSA, David (ed). Analytic Philosophy: an anthology. 4ª ed. Malden: Blackwell, 2006.
MOORE, G. E. Proof of an external world. Proceedings of British Academy: vol. 25, 273-300, 1925.
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Notas: