quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

Podem as máquinas pensar?

 


Podem as máquinas pensar?

Podemos esperar que as máquinas eventualmente

competirão com os humanos em campos puramente intelectuais.

(Allan Turing)

Em 1950, Alan Turing publicou na revista Mind seu magistral artigo “Computing Machinery and Intelligence” em que colocou a seguinte pergunta: «podem as máquinas pensar?». Como essa questão, Turing inseriu como foco de discussão toda a problemática que envolve a relação entre humanos e máquinas e o advento da inteligência artificial tão complexamente elabora no tempo presente.

Na década de 1950, uma resposta positiva à questão parecia muito improvável, no entanto, o avanço tecnológico atual aproxima-nos cada vez mais de uma resposta definitiva ao desafio de Turing. Em artigo publicado ontem (23/12/2020) pela revista Nature, foi apresentado a última (r)evolução tecnológica em termos de inteligência artificial: o MuZero. O MuZero é um programa de computador desenvolvido pela empresa de pesquisa de inteligência artificial DeepMind para dominar jogos sem saber nada sobre suas regras. O algoritmo MuZero aprende um modelo iterável que produz previsões relevantes para o planejamento: a seleção de ação política, a função de valor e a recompensa. Quando avaliado em 57 diferentes jogos, Atari games ambiente de videogame canônico para testar inteligência artificial técnicas, nas quais abordagens de planejamento baseadas em modelo historicamente têm lutado, o algoritmo MuZero alcançou desempenho de última geração. Quando avaliado em Go, xadrez e shogi - ambientes canônicos para planejamento de alto desempenho – o algoritmo MuZero combinou, sem qualquer conhecimento da dinâmica do jogo, o desempenho sobre-humano do algoritmo AlphaZero que foi fornecido com as regras do jogo.

Esse é um avanço surpreendente com relação ao seu antecessor, o AlphaZero, o que demonstra que os limites para a inteligência artificial ainda estão longe de serem atingidos, o que instiga ainda mais a investigação por novos recursos tecnológicos que possa aperfeiçoar a façanha. O MuZero utiliza a aprendizagem por reforço baseada em modelo, o que o permite atingir desempenho de ponta em jogos Atari 2600, xadrez, Go e shogi. “A aprendizagem por reforço baseada em modelo (RL) visa abordar esta questão, primeiro aprendendo um modelo da dinâmica do ambiente e, em seguida, planejando em relação ao modelo aprendido” (SCHRITTWIESER, 2020, p. 604).

Podemos dizer que há ainda muito a ser explorado na área da inteligência artificial com testes que irão para além de jogos, mas na interação com o próprio ambiente humano, podendo suscitar muitas fantasias que estão, até o momento, nos livros e filmes de ficção científica, mas que pode vir um dia a se tornar a mais pura realidade.

(Luiz Maurício Bentim Menezes)

Bibliografia

SCHRITTWIESER, J. et al. Mastering Atari, Go, chess and shogi by planning with a learned model. Nature, v. 588, p. 604-609, 2020. https://doi.org/10.1038/s41586-020-03051-4