quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

2020: o ano que se repetirá?

 


2020: o ano que se repetirá?

Gostaria de elaborar uma reflexão sobre o tipo de ano que foi 2020. A pandemia de covid-19 trouxe para o ano de 2020 uma característica singular para o tempo presente, pois impôs restrições a todos os países da Terra. O novo coronavírus (covid-19) ganhou destaque no final do ano 2019 através da intensa contaminação da população da China, mais especificamente na região de Wuhan. O vírus ganhou seu nome científico de SARS-CoV-2 (Coronavírus da síndrome respiratória aguda grave 2) e tem um alto nível de contágio. A Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu que a doença respiratória provocada pela infecção do novo coronavírus deverá ser chamada de Covid-19. O nome da doença resulta das palavras “corona”, “vírus” e “doença” com indicação do ano em que surgiu (2019). O contágio ganhou dimensões globais em 2020 e não demorou muito para que a OMS declarasse que vivíamos uma forte pandemia em todo o mundo. Aos poucos cidades, estados e países começaram a fechar suas fronteiras e a restringir a locomoção das pessoas, recomendando, ou até mesmo decretando, que as pessoas fiquem em casa para evitar a disseminação do vírus entre as pessoas, em uma tentativa de achatar a curva de contaminação. Mais de 70 milhões de contaminações e mais de um milhão de mortes aconteceram no mundo em 2020. A pandemia ainda impera e temos que conviver com o vírus que se mantém contaminando cada vez mais pessoas. Perante tudo isso, quais são as perspectivas reais para 2021?

2021 não será um ano fácil. Apesar de todas as expectativas de termos um ano melhor que 2020, ainda nada mudou com relação a pandemia. A promessa de uma vacina ainda é insuficiente para que possamos ficar aliviados. E mesmo que a vacina cumpra o seu papel de nos manter seguros do vírus, o mundo ainda atravessa as mesmas mazelas sociais, econômicas e políticas. A sociedade capitalista é uma sociedade inerentemente desigual. Em nome da liberdade econômica, os liberais se apoiam em uma farsa só posta às claras com uma crise. É o momento de se construir um novo contrato social para o bem das populações globais. Esse deve ser um contrato cidadão, que respeite em primeiro lugar o povo e retire do mercado as decisões soberanas das nações.

Para 2021 é preciso que cada um continue fazendo a sua parte, pois uma lição ficou clara com a pandemia: somos responsáveis também pela vida das outras pessoas. Não é porque tenho boa saúde e não acredito que o vírus de covid-19 vá me causar grandes danos que eu não possa vir a transmitir o vírus para alguém de saúde mais frágil. Por isso, eu devo me resguardar para proteger a vida de outra pessoa. É preciso que continuemos fazendo o distanciamento, usando máscaras e evitando lugares cheios como bares, praças e praias. Em o “Mito de Sísifo”, Albert Camus nos diz que a questão filosófica mais importante é se vale a pena viver a minha vida. Ou, em outras palavras, se eu posso encontrar um sentido em minha própria vida. Caso a resposta seja negativa, nenhuma outra questão valeria a pena. De acordo com o mito grego, Sísifo é aquele que foi condenado a carregar uma pedra montanha acima; quando a pedra chega no topo, ela cai novamente e Sísifo tem que retomar o trajeto para novamente levantar a pedra. Sísifo não tem esperança alguma que a pedra vá ficar no topo. Nada o ilude nesse sentido. Camus nos diz: “Deixo Sísifo no sopé da montanha! Sempre se reencontra seu fardo. Mas Sísifo ensina a fidelidade superior que nega os deuses e levanta os rochedos. Ele também acha que tudo está bem. Esse universo doravante sem senhor não lhe parece nem estéril nem fútil. Cada um dos grãos dessa pedra, cada clarão mineral dessa montanha cheia de noite, só para ele forma um mundo. A própria luta em direção aos cimos é suficiente para preencher um coração humano. É preciso imaginar Sísifo feliz”.

A pedra que Sísifo carrega é a representação de sua própria existência. Toda existência é única e pesada. Cada um de nós tem a sua própria pedra para carregar. Ter consciência disso é saber que somos responsáveis por cada um e por todos. Não podemos nos esquecer disso. Ainda há muito o que fazer e 2021 será um longo percurso de reconstrução a ser tomado em busca de algo melhor. Possivelmente ainda teremos que repetir indefinidamente os cuidados que tomamos em 2020 como parte da pedra que carregamos a vida inteira.

(Luiz Maurício Bentim Menezes)