quarta-feira, 20 de novembro de 2019

Manifesto pelo dia da Consciência Negra

  Manifesto pelo dia da Consciência Negra



O Tribunal de Justiça de Minas Gerais errou em sua decisão ao suspender no dia 14/11/19 um feriado que simboliza a luta que corre nas veias do nosso Brasil. Entre tantos feriados santos que temos, julgou-se eliminar aquele que representa o movimento social de luta e história negra no país. Isso é muito grave! Isso aconteceu depois que Sindicomércio entrou com uma ação para tentar retirar a data do calendário. O motivo alegado é que o setor tem prejuízos com o feriado. No entanto, a decisão judicial fere um direito e esmaga um dia de luta entre tantos outros que foram (e continuam sendo) necessários.

O Dia da Consciência Negra é simbólico perante todo sangue negro que foi derramado neste país por conta da escravidão. Isso não pode ser esquecido. Quando a Reitoria do Instituto Federal do Triângulo Mineiro e a Direção Geral do Campus Uberaba decidem manter o dia 20/11 letivo, estão automaticamente agredindo a história de luta dos negros no Brasil. É preciso rever isso de maneira categórica e ampla, inclusive para os técnicos administrativos. Que estes não sejam esquecidos e sejam contemplados nesse dia. O IFTM não pode ser negligente com isso, ferindo a memória de nosso povo.
Como o próprio nome diz é o dia da consciência negra. É preciso que nos conscientizemos da sua importância e não ultrapassemos o limite do bom senso passando por cima da nossa memória. Em “Crítica da razão negra” Achille Mbembe elabora um estudo sobre o conceito de “Negro”, sobre a evolução do pensamento racial europeu que o origina e sobre as máscaras usadas para o cobrir com um manto de invisibilidade. Essa crítica se estende ao Brasil, último país a abolir a escravidão na América. Dessa forma, é preciso uma maior consciência e reflexão antes de se tomar esse tipo de decisão em nossa instituição. Conscientização é a chave para a liberdade e a autonomia que possamos ter sobre decisões arbitrárias desse tipo. Como nos leva a refletir Hannah Arendt em "A Liberdade para ser livre", a liberdade só faz sentido se for utilizada para a nossa própria liberdade e, para isso, ser consciente do que significa ser livre é essencial.
A decisão judicial traz um retrocesso para o município de Uberaba e estende a aura de dominação sobre a classe trabalhadora, ocultando mais uma vez o nosso passado escravagista e violento. O feriado do dia 20/11 não é contra o trabalho. Quem diz isso está associado a uma lógica perversa que inverte o verdadeiro significado do feriado e pretende beneficiar o comércio e a mercantilização da força de trabalho. A liberdade para a luta é algo que não pode nos ser retirada de maneira arbitrária e, por isso mesmo, o feriado deve ser defendido em todos os sentidos. Defendido como um direito de todos. Defendido como um símbolo histórico da memória viva de nosso povo.
E a prova de que a luta pela cidadania ainda é um longo caminho foi o ato de ontem (19/11) em que o deputado Coronel Tadeu (PSL-SP) quebrou uma placa com charge que compunha exposição em homenagem ao Dia da Consciência Negra na Câmara. Um ato visivelmente racista e de total intolerância.
Os nossos representantes não devem seguir o mesmo erro. O Dia da Consciência Negra não deve passar em branco. Ele é a luta negra contra a injustiça e a desigualdade ainda cometidas neste país. A cidade de Uberaba não deve reproduzir uma nova senzala em uma decisão judicial discriminatória, desrespeitosa e racista. A luta sempre continua!

Luiz Maurício Bentim da Rocha Menezes
Professor de Filosofia do IFTM
Presidente da Comissão de Direitos Humanos do IFTM - Campus Uberaba