Mitologias I
Inicio uma série de comentários sobre trechos da obra “Mitologias” de
Roland Barthes.
Na realidade, aquilo que
permite ao leitor consumir o mito inocentemente é o fato de ele não ver no mito
um sistema semiológico, mas sim um sistema indutivo: onde existe apenas uma
equivalência, ele vê uma espécie de processo causal: o significante e o significado
mantêm, para ele, relações naturais. Pode exprimir-se esta confusão de um outro
modo: todo o sistema semiológico é um sistema de valores; ora, o consumidor do
mito considera a significação como um sistema de fatos: o
mito é lido como um sistema factual, quando é apenas um sistema semiológico.
(2003, p. 223)
A obra, escrita em 1956, faz uma boa análise sobre o que é um mito e,
mais especificamente, sobre o que é um mito contemporâneo. A estrutura mítica
faz parte de um sistema semiológico e retrata um signo. Ao lermos “Mitologias”
nesse final do ano de 2018, podemos verificar o quanto a obra ainda é atual e
permanecerá pelos próximos anos. Se olharmos para as figuras políticas do
mundo, podemos ver personalidade se transformando em mitos, ao serem exaltadas
além do construto que realmente são. O caso do Brasil é bem específico nesse
ponto, onde um dado candidato era chamado pelos seus messiânicos eleitores de
“mito”. Isso condiz exatamente com a citação acima: “o mito é lido como um
sistema factual, quando é apenas um sistema semiológico”. Há, desse modo, uma
naturalização da personalidade, tomando seus atos como simples relações
naturais da sua pessoa e não como uma estrutura linguística articulada. Desse
modo, muita confusão se cria em cima desse tipo de formulação. O mito não
pretende enganar, ele diz claramente sem nada encobrir; o que acontece é a reinterpretação
da estrutura mítica de maneira falsamente natural e nada factual, quando, na
verdade, ele é o que sempre foi: um mito.
Bibliografia:
BARTHES, Roland. Mitologias. Tradução de Rita Buongermino, Pedro de Souza e Rejane Janowitzer. Rio de Janeiro: DIFEL, 2003.
Luiz Maurício Bentim da Rocha Menezes
Bibliografia:
BARTHES, Roland. Mitologias. Tradução de Rita Buongermino, Pedro de Souza e Rejane Janowitzer. Rio de Janeiro: DIFEL, 2003.