Conta-nos o mito grego que Zeus teria
encarregado os irmãos Epimeteu e Prometeu de distribuir as capacidades dos
seres vivos antes de sua gênese no mundo. Epimeteu pediu a Prometeu que ele
próprio ficasse incumbido da distribuição e que Prometeu depois iria conferir o
seu trabalho. E no procedimento de distribuição, Epimeteu conferiu a algumas
criaturas a força, a outras, velocidade, a alguns, garras, a outros, asas e,
assim por diante, ele parecia distribuir adequadamente as capacidades entre os
seres existentes. No entanto, não sendo muito sábio, acaba usando todas as
capacidades antes que chegasse no homem. Isso leva-o a um impasse, um momento
de desconforto em que ele não consegue resolver o problema que lhe está posto.
Tal momento de impasse, que o próprio Epimeteu se meteu, é o que chamamos em
filosofia de “aporía”.
A palavra aporía pode ser melhor entendida se for dividida no prefixo de negação “a” e a palavra “póros” que significa passagem, caminho ou recurso. Aporía seria, portanto, “sem passagem” ou “sem recurso”. Prometeu chega justamente nesse momento de aporía em que o homem estava metido pela má distribuição feita por Epimeteu e precisa resolver agora o impasse posto pelo irmão. Sem mais nenhuma capacidade para dar ao homem, Prometeu se vê obrigado a ir até a morada dos deuses para roubar-lhes o fogo e as artes e a entregá-los aos homens. Graças ao seu feito que o homem pôde sair da aporía e ser capaz de sobreviver no mundo. Prometeu, portanto, é aquele que deu o recurso ao homem acabando com a aporía posta por Epimeteu. Por esse feito, Prometeu será, depois, condenado e castigado por Zeus e será acorrentado no Cáucaso por Hefesto.
A palavra aporía pode ser melhor entendida se for dividida no prefixo de negação “a” e a palavra “póros” que significa passagem, caminho ou recurso. Aporía seria, portanto, “sem passagem” ou “sem recurso”. Prometeu chega justamente nesse momento de aporía em que o homem estava metido pela má distribuição feita por Epimeteu e precisa resolver agora o impasse posto pelo irmão. Sem mais nenhuma capacidade para dar ao homem, Prometeu se vê obrigado a ir até a morada dos deuses para roubar-lhes o fogo e as artes e a entregá-los aos homens. Graças ao seu feito que o homem pôde sair da aporía e ser capaz de sobreviver no mundo. Prometeu, portanto, é aquele que deu o recurso ao homem acabando com a aporía posta por Epimeteu. Por esse feito, Prometeu será, depois, condenado e castigado por Zeus e será acorrentado no Cáucaso por Hefesto.
O que queremos atentar com o mito
aqui exposto é para o sentido da aporía
e sua importância para o filosofar. A aporía é um elemento de
perplexidade que impulsiona a filosofia a buscar soluções para as suas
questões, sendo um desafio imposto ao filósofo. A filosofia, já diziam os antigos,
começa com o espanto, com o questionar-se sobre o mundo. Sem questão não há
filosofia e toda questão leva a um impasse a ser resolvido. O homem que
filosofa é um homem que se move na dificuldade de resolver uma questão, de
pensar sobre os caminhos possíveis a serem percorridos no intuito de se encontrar
uma resposta adequada para o impasse. No entanto, o filósofo é somente aquele
que se adianta sobre o problema ou aquele que se dedica a resolver o problema,
pois a aporía pertence ao próprio
sentido do humano. O percurso de todo homem envolve a aporía da vida, isto é, o impasse sobre a perplexidade do mundo que
nos cerca. Somos uma existência (ou seriam existências?) ainda inexplorada,
presos a uma única realidade temporal que nos faz indizíveis todas as outras
possíveis realidades. A aporía se
encontra no escolher, no como viver, no que fazer da vida que nos foi dada. Será
através do fogo da razão e do uso das artes e técnicas que o homem irá se
aprimorar e avançar dentro das suas próprias capacidades e possibilidades na
tentativa de se descobrir como humano, pois não há humano que possa se manter
fora da dádiva que nos foi entregue.
Prometeu através da sua ação para com
os homens, vem aproximar a humanidade da dádiva divina e nos permitir a
abertura do caminho. Aberto o caminho, estamos livres para escolher nosso
próprio percurso perante a aporía da vida.
* Esse ensaio foi publicado primeiramente na "Gazeta" do Amapá no dia 03/12/17.
* Esse ensaio foi publicado primeiramente na "Gazeta" do Amapá no dia 03/12/17.