quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

Brasil: Subdesenvolvimento e Dependência – parte 2

 


Brasil: Subdesenvolvimento e Dependência – parte 2

O cenário atual de análise da conjuntura brasileira que partimos são as últimas eleições presidenciais (2018) e a chegada de Bolsonaro ao poder. Somado a isso, temos o advento da pandemia de covid-19 que trouxe sérios danos à economia global como um todo a partir do início do ano 2020. Ajustes tiveram que ser feitos aos processos do capitalismo perante o fechamento das fronteiras entre países e a recomendação de que a maioria das pessoas ficasse em casa para a prevenção contra o vírus. No Brasil, as medidas tomadas pelo ministério da saúde junto aos governos federal, estaduais e municipais foram insuficientes para conter a disseminação da doença no país. A economia da América Latina sofreu uma contração de atividade de mais ou menos 5% em 2020, gerando por volta de 30 milhões a mais de pessoas pobres. Para acentuar ainda mais o caso, temos a saída massiva de investidores estrangeiros de mercados emergentes, o que ajudou a agravar ainda mais a situação. Diante desse cenário, é preciso reavaliar o papel dos países em desenvolvimento / subdesenvolvidos, incluído o Brasil.

De acordo com Celso Furtado, os mitos são um reflexo da realidade objetiva (1974, p. 13). Isso significa dizer que o mito retrata como real aquilo que é meramente uma imagem dos fatos, uma construção discursiva da realidade e que não passa de um simulacro que engana aqueles que acreditam em sua veracidade. Quando se trata da economia política, o simulacro construído funciona como um véu que pretende ocultar em seu discurso as tramas sutis da produção capitalista. O Brasil é um país que tem um passado de alinhamento com os EUA que vem prejudicando historicamente o seu crescimento. Ocupando atualmente o lugar da 9ª economia do mundo, o Brasil poderá cair em breve para a 12ª posição, segundos dados recentes. Apesar de haver uma influência da pandemia de covid-19 e a diminuição dos setores produtivo e comércio do país, a escolha do modelo econômico adotado é fundamental para o presente resultado. A economia norte-americana é dependente de recursos não renováveis produzidos no exterior, o que faz com que haja uma procura por tais produtos nos países subdesenvolvidos. No caso brasileiro, há uma escolha recorrente por ser exportador de commodities agrárias e minerais que. é insuficiente para alavancar o crescimento do país à categoria de país desenvolvido. O setor industrial ainda é o que mais pesa economicamente em uma comparação entre nações, sendo que o Brasil se encontra muito inferior no aprimoramento deste setor. A substituição de importações, que visa dar incentivos para a indústria nacional para que ela possa crescer, é característica própria das economias subdesenvolvidas e pouco eficaz para alavancar a economia desses países, o que leva, no Brasil, ao seu inevitável abandono como um projeto econômico viável para se desenvolver por meio de acordos internacionais e da ampliação de seu comércio com o resto do mundo.

As formas de consumo definidas pelos países desenvolvidos são inviáveis dentro das possibilidades evolutivas do sistema capitalista. Os recursos não renováveis são um grande problema dentro desse sistema que explora cada vez mais a natureza como um recurso infinito. Como já é longamente conhecido, os recursos naturais têm uma durabilidade incompatível com o modelo exploratório desse modo de produção. Portanto, é mais importante repensar a própria estrutura desse modelo do que a formulação de discursos que visem incentivar aos países subdesenvolvidos a alcançar um mesmo padrão de exploração de recursos, pois seria completamente insustentável.

Para Celso Furtado, “o interesse principal do modelo que leva a essa ruptura cataclísmica está em que ele proporciona uma demonstração cabal de que o estilo de vida criado pelo capitalismo industrial sempre será o privilégio de uma minoria. O custo, em termos de depredação do mundo físico, desse estilo de vida é de tal forma elevado que toda tentativa de generalizá-lo levaria inexoravelmente ao colapso de toda uma civilização, pondo em risco as possibilidades de sobrevivência da espécie humana. Temos sim a prova definitiva de que o desenvolvimento econômico – a ideia de que os povos pobres podem algum dia desfrutar das formas de vida dos atuais povos ricos – é simplesmente irrealizável”. (“O mito do desenvolvimento econômico”, 1974, p. 74-75)

O mito do desenvolvimento se encontra na crença de que os países periféricos possam atingir o mesmo patamar dos países de centro apenas seguindo o mesmo modelo econômico perpetrado por eles. O processo de acumulação amplia o fosso entre o centro capitalista e as economias periféricas, cujas disparidades continuam a agravar-se. O fluxo contínuo e a busca incessante pelo crescimento contínuo ano após ano fazem do processo de acúmulo de capital uma verdadeira Hidra de Lerna, em que a cabeças do capital não param de se duplicar. Mas o problema não gira em torno do acúmulo apenas, mas da concentração e da falta de distribuição de renda, o que pode ser facilmente percebido no caso brasileiro. Sobre isso iremos falar em nosso próximo post.

Luiz Maurício Bentim