quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

Brasil: Subdesenvolvimento e Dependência – parte 1

 


Brasil: Subdesenvolvimento e Dependência – parte 1


O Brasil passa por um período de ajustes após a disputa eleitoral de 2018 para presidência da República. Com a criação do ministério da economia e a ascensão de Paulo Guedes como ministro, tivemos uma brusca mudança para uma política econômica ultra liberal que defende, entre outras coisas, o Estado mínimo, as privatizações, a desregulamentação do trabalho e o mercado financeiro como regulador das decisões econômicas. Somado a isso, temos o destaque para o novo coronavírus (covid-19) que ganhou força no final do ano 2019. O vírus ganhou seu nome científico de SARS-CoV-2 (Coronavírus da síndrome respiratória aguda grave 2) e tem um alto nível de contágio. A Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu que a doença respiratória provocada pela infecção do novo coronavírus deverá ser chamada de Covid-19. O contágio ganhou dimensões globais em 2020 e não demorou muito para que a OMS declarasse que vivíamos uma forte pandemia em todo o mundo. Aos poucos cidades, estados e países começaram a fechar suas fronteiras e a restringir a locomoção das pessoas, recomendando, ou até mesmo decretando, que as pessoas ficassem em casa para evitar a disseminação do vírus entre as pessoas, em uma tentativa de achatar a curva de contaminação. Tais medidas foram determinantes para limitar o livre-comércio, afetando seriamente a economia dos países e os dogmas liberais anteriormente defendidos. O mundo passa por uma forte desaceleração e os índices de crescimento global são negativos. Ainda são fracos os indícios de melhorar em 2021, apesar de toda a expectativa popular.

Para analisarmos a economia política brasileira atual, optamos por fazer a retomada dos estudos de Celso Furtado e Ruy Mauro Marini, importantes pensadores da problemática econômica, política e social do país. Dessa forma, pretendemos demonstrar que há uma continuidade nos processos decisórios que levaram à presente situação, investigando, a partir desses autores, possíveis soluções para o subdesenvolvimento do Brasil rumo a um projeto de nação.

Celso Furtado viveu em um período histórico, do fim da Segunda Guerra Mundial até a primeira crise do petróleo, que ficou conhecido como “a era de ouro do capitalismo”. Tratou-se de um período marcado pelo processo de produção e consumo em massa e intervencionismo do Estado na economia. Foi uma era de intenso crescimento econômico no Brasil, durante o governo de Juscelino Kubitschek, 50 anos em 5 (1956-1961). Furtado criou a pedido do presidente Juscelino Kubitschek, em 1959, a Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) que tem por finalidade promover o desenvolvimento includente e sustentável do Nordeste. Em 1962, foi ministro do planejamento do governo João Goulart e idealizador do Plano Trienal de Desenvolvimento Econômico e Social. No período militar, Celso Furtado teve seus direitos políticos cassados por dez anos e se exilou no exterior. Após a reabertura democrática, Celso Furtado voltou a exercer as suas atividades profissionais. Faleceu em novembro de 2004.

Ruy Mauro Marini inicia sua carreira acadêmica a partir de 1962 como professor universitário na UnB. Exilou-se no México e no Chile após o golpe militar de 1964 no Brasil. Conhecido por desenvolver a teoria da dependência, que consiste em uma leitura crítica e marxista dos processos de reprodução do subdesenvolvimento na periferia do capitalismo mundial, Marini escreveu diversos trabalhos que analisavam o papel dos países latino-americanos com relação a sua dependência ao capital dos EUA. A maioria de suas obras permaneceram inéditas em português até sua morte em 1997.

Apesar das diferenças entre esses pensadores, gostaríamos de destacar os pontos convergentes que há como, por exemplo, a reflexão que ambos fazem sobre o desenvolvimento como critério fundamental para o progresso técnico e o aumento da produtividade. Em nossos próximos posts, o intuito será apresentar a complexidade das obras de Furtado e Marini em suas análises sobre capitalismo global nos anos 1970 devido à intensificação das formas de acumulação de capital, seja pelas empresas transnacionais ou pelo capital financeiro; e demonstrar a crise que se encontra o Brasil hodierno a partir de um balanço da economia política desenvolvida no país na segunda metade do século XX. O resultado é a marca do subdesenvolvimento e da dependência devido a mesma escolha que perpetua na dinâmica do país: ser mero exportador de commodities agrícolas e minerais, falta de investimento na indústria nacional e a produção de mais-valia para os países desenvolvidos a partir da exploração da mão-de-obra não especializada dos trabalhadores do país.

Luiz Maurício Bentim