“Somente os perigos que abarcam a
sociedade inteira perturbam o sono tranquilo do filósofo e o arrancam do leito.
Pode-se impunemente degolar seu semelhante embaixo da sua janela, basta-lhe pôr as
mãos sobre os ouvidos e argumentar um pouco consigo mesmo para impedir a
natureza, que nele se revolta, de identificar-se com aquele que assassinam”. – Rousseau, Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade
entre os homens.
Até
quando suportaremos atrocidades como a que ocorreu ontem no Egito, onde centenas
foram mortos e milhares ficaram feridos num legítimo massacre decretado pelo
governo militar no país? O Egito é só um entre tantos exemplos de
desentendimentos políticos, econômicos e religiosos que acabam em sangue. A
violência é um instrumento dos governos, mas como ela deve ser usada? O que
fazer quando a democracia falha? A instauração de um estado policial é a
solução para a paz? Liberdade ou mais segurança?
Questões
como essas suscitam a Filosofia Política
a pensar caminhos para uma melhor relação entre os homens no mundo. A divergência
entre pessoas, a dificuldade em encarar o outro
esteve presente desde os primórdios. A palavra grega ‘bárbaro’ já indicava
um problema encontrado entre os gregos para olhar o diferente, aquele que não
fazia parte da mesma cultura, aquele que se apresentava como um elemento
estranho, que deveria ser evitado. Sempre seria um não-grego, um bárbaro.
Milhares
de anos passaram-se e o outro continua a ser um problema a ser por nós
enfrentado. Por que permitimos que a tirania (um clássico problema da filosofia
política desde os tempos do velho Platão) resista como forma de governo em
pleno século XXI? Legitimamos esse tipo de governo ao determinarmos que alguns
não são tão iguais a nós e merecem ser tratados diferentes, como bárbaros. A
palavra da moda agora é dizer que o outro é um ‘terrorista’, pois assim qualquer
atitude contra este é permitida. Tratamos nossos semelhantes com desigualdade
porque eles pensam e agem de maneira diferente da nossa. Não seria a hora de
encararmos a diferença como algo bom para a natureza do homem e a diversidade
de pensamento como uma forma de melhorarmos e engrandecermos nossa participação nesse mundo que
convivemos?