quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013



Prémio de Ensaio Filosófico SPF (Sociedade Portuguesa de Filosofia) 2012

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A edição de 2012 do Prémio SPF, promovido pela Sociedade Portuguesa de Filosofia com o apoio da Fundação para a Ciência e a Tecnologia, colocou a concurso a seguinte questão filosófica: O relativismo acerca da verdade refutase a si mesmo? 
É com satisfação que se anuncia que o vencedor do prémio, no valor de três mil e quinhentos euros, é José Gusmão Rodrigues, autor de um ensaio que adoptou o enunciado da questão colocada como título.



José Gusmão Rodrigues é um estudante de 19 anos actualmente matriculado no segundo ano do curso de Filosofia da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Foi medalha de prata nas Olimpíadas Internacionais de Filosofia realizadas em Viena em Maio de 2011. Desde Fevereiro de 2013, é membro do grupo de investigação LanCog e tem intenções de se especializar em filosofia da mente. Em 2012, fez apresentações no 10º Encontro Nacional de Professores de Filosofia (na Universidade Nova de Lisboa, com o título «A mente ultrapassa o crânio? O debate sobre os limites da cognição») e no 5º Encontro Nacional de Filosofia Analítica (na Universidade do Minho, com o título «Kripke’s argument
against materialism: A reply to some objections»). Nesse mesmo ano, participou na OFA8: 8th Graduate Workshop in Analytic Philosophy, na Universidade de Lisboa, comentando um trabalho de Robin McKenna sobre o contextualismo.

No seu ensaio, José Gusmão Rodrigues, com o objectivo de avaliar «a acusação de auto-refutação levantada por Platão e retomada por tantos outros filósofos contra o relativismo», começa por esclarecer o que se entende por relativismo, como é que o relativismo acerca da verdade se distingue de outros tipos de relativismo e de que maneiras é que, em geral, uma tese ou teoria filosófica pode ser auto-refutante. A objecção da auto-refutação é dirigida, não às diversas formas de relativismo local (como, por exemplo, o que é defendido por alguém que é relativista somente a respeito das normas morais, ou somente a respeito dos gostos), mas ao relativismo global acerca da verdade, segundo o qual nenhuma proposição pode ser absolutamente verdadeira. A auto-refutação semântica é diferente de outros tipos de auto-refutação, entre os quais se destaca a auto-refutação pragmática: enquanto nesta é a forma de
apresentação da tese que implica que ela não seja verdadeira, naquela é a própria suposição de que a tese é verdadeira que implica a sua negação. José Gusmão Rodrigues defende que o relativismo global acerca da verdade consegue escapar a ambas. O aspecto semântico é analisado à luz de um sistema formal proposto por Mark Ressler (corrigindo e desenvolvendo uma analogia feita por Steven Hales entre a lógica modal e uma lógica relativista). Neste sistema é possível elaborar uma prova da consistência do relativismo, quer dizer, pode-se provar que há um modelo (ou uma interpretação da
linguagem) com duas perspectivas opostas, uma das quais é tal que todas as frases do sistema recebem um valor de verdade relativamente a ela que não é o que recebem relativamente à outra, constituindo esse modelo uma representação daquilo que a tese relativista afirma. Na discussão do aspecto
pragmático, José Gusmão Rodrigues argumenta que as tentativas de mostrar que o relativismo é pragmaticamente auto-refutante falham, porque «fazem grandes suposições teóricas controversas nas suas premissas», suposições essas que o relativista, de maneira consistente com a sua perspectiva, naturalmente rejeitaria.

Os ensaios foram avaliados, sem conhecimento da identidade dos seus autores,
por um júri composto por Álvaro Balsas (Universidade Católica Portuguesa), António Zilhão (Universidade de Lisboa), Ricardo Santos (Universidade de Évora), Sofia Miguens (Universidade do Porto) e Teresa Marques (Universidade de Lisboa).

A entrega do prémio terá lugar no decurso do 11º Encontro Nacional de Professores de Filosofia, que deverá ocorrer na Universidade de Coimbra nos dias 6 e 7 de Setembro de 2013.

O ensaio vencedor será publicado num dos próximos números da Revista Portuguesa de Filosofia.

Sociedade Portuguesa de Filosofia
Lisboa, 28 de Fevereiro de 2013