sexta-feira, 1 de junho de 2012

Os pequenos também filosofam


Para quem pensa que a filosofia é uma disciplina muito avançada, complexa, abstrata, etc. para ser apresentada para crianças, a leitura de Big ideas for little kids de Thomas Wartenberg vem em boa hora. Esse pequeno livro, baseado na própria experiência do autor com o ensino da filosofia para os pequeninos, mostra o quanto as crianças podem se interessar por questões filosóficas e o quanto é fácil ajudá-las a pensar sobre elas. O método é simples e dispensa qualquer formalismo: através de estórias infantis. Tudo o que o professor precisa fazer é detectar as questões filosóficas que venham a surgir das estórias e incitar as crianças a discuti-las. É claro que não esperamos que crianças de 6 ou 7 anos consigam pensar sobre o paradoxo da condicional material ou sobre possibilidades relativas; é o suficiente que percebam a complexidade de certas coisas no mundo, como por exemplo, a dificuldade de se dizer o que é uma obra de arte, o que é que faz uma ação ser correta, por que há algo e não nada, e assim por diante. Também não esperamos respostas brilhantes e nunca d’antes ensaiadas; tudo o que queremos é que as crianças consigam perceber os problemas filosóficos e ousem respondê-los.

O livro se divide em quatro partes. A primeira trata do interesse das crianças por questões filosóficas e como podemos conduzi-las a uma discussão filosófica. Através de sua experiência, Wartenberg nos ajuda a desfazer a idéia de que a filosofia não é para crianças. Ele menciona uma conversa que teve com o filho de cinco anos: o garoto ficou perplexo com o fato de existirmos –- se para tudo o que existe, existe sempre algo anterior que foi responsável por sua existência, sempre existiram coisas? Isso significa que o universo não teve começo? Longe de ser uma anomalia, as crianças geralmente têm esse tipo de perplexidades, nós é que na maioria das vezes não paramos para ouvi-las. Para ensiná-las a filosofar tudo o que precisamos fazer é dar ouvidos a essas perplexidades, tornado natural a elas o processo de procura por respostas.
Mas para ensinar as crianças a filosofar é preciso abandonar uma prática comum no ensino em geral: o modelo voltado para o professor, cujo objetivo é transmitir ao aluno, quase que por osmose, o maior número de informações que se conseguir. Já se vê que esse método é ineficaz para ensinar a filosofar -– a maioria das questões filosóficas ainda não foi resolvida. O modelo proposto por Wartenberg é o modelo voltado para o aluno, onde o objetivo é, sobretudo, fazer com que o aluno desenvolva por si próprio a capacidade de defender seus próprios pontos de vista. Sem esse método o ensino da filosofia é completamente inviável –- até mesmo para adolescentes e adultos. O papel do professor se reduz, de acordo o modelo voltado para o aluno, a um mediador, tendo como principal função ajudar os alunos numa discussão filosófica. Sua função, além de iniciar a discussão, é clarificar aos alunos o que está em questão, ajudá-los a articular melhor as suas idéias, colocar ordem na discussão, etc. Para usar a metáfora de Wartenberg, a atividade filosófica é como um jogo, e como todo jogo possui regras; o professor é o juiz e sua função é fazer com que as regras do jogo sejam cumpridas.
As outras três partes nos ensina a botar a mão na massa. A parte 2 ensina a montar um plano de aula. A parte 3 dá exemplos de várias estórias (e.g.O Mágico de Oz) que levantam questões filosóficas relativamente simples e compreensíveis às crianças. A última parte sugere algumas atividades complementares a fim de ajudar os alunos a se expressarem melhor, enxergarem o problema com mais clareza, etc.
Professores, mãos à obra!