quinta-feira, 7 de abril de 2011

Vencedores do Prêmio de Ensaio Filosófico da Sociedade Portuguesa de Filosofia




Caros Colegas,

Tal como foi oportunamente divulgado, a edição de 2010 do Prémio SPF, promovido pela Sociedade Portuguesa de Filosofia com o apoio da Fundação para a Ciência e a Tecnologia, colocou a concurso uma questão no âmbito da epistemologia: Pode a percepção justificar as nossas crenças acerca da realidade?

É com satisfação que se anuncia que o vencedor do prémio, no valor de três mil e quinhentos euros, é Luís Estevinha Rodrigues, autor de um ensaio que adoptou o enunciado da questão colocada como título.

Luís Estevinha Rodrigues licenciou-se em Filosofia na Universidade de Lisboa em 2004 e é estudante de doutoramento na mesma universidade, estando actualmente a aguardar a defesa de uma tese que apresentou na área da epistemologia. Foi bolseiro da Fundação para a Ciência e a Tecnologia entre 2005 e 2009, é professor do ensino secundário e membro do grupo de investigação LANCOG do Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa. Entre outros trabalhos, publicou um artigo na revista Philosophica (em 2010) e tem no prelo um livro sobre questões de epistemologia.

No seu ensaio, Luís Estevinha Rodrigues defende que a percepção sensorial – e, em particular, a visão – origina crenças com conteúdo proposicional respeitante ao mundo exterior e, na maioria dos casos, embora não em todos, justifica da melhor maneira possível (com justificação epistémica ultima facie) essas crenças. A argumentação apresentada em defesa desta posição tem um pendor claramente pragmático, pois toma como premissa a existência de relações causais entre essas crenças perceptuais e as nossas acções, e usa a eficácia destas acções como prova não-derrotável da legitimidade da evidência perceptual que sustenta as ditas crenças. A condução de um automóvel ou a previsão da trajectória e velocidade da bola efectuada por um jogador de basebol são mencionadas como exemplos confirmadores dessa capacidade da percepção para recolher informação relevante e correcta acerca da realidade.

O júri do prémio SPF 2010 decidiu ainda atribuir uma menção honrosa a Tommaso Piazza, autor de um ensaio intitulado «Percepções e Razões».

Tommaso Piazza licenciou-se em Filosofia na Universidade de Florença em 1998. Doutorou-se na mesma universidade, em 2003, com uma tese sobre o conhecimento e a justificação a priori. Entre 2005 e 2007, foi bolseiro de pós-doutoramento em Salzburg e ensinou Filosofia da Linguagem na Universidade de Pavia. Desde 2007 é investigador auxiliar do Instituto de Filosofia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Desde 2010 ensina Filosofia das Ciências nesta mesma universidade. Entre as suas publicações, destacam-se dois livros (Esperienza esterna e sintesi passiva, Guerini e Associati, 2000, e A Priori Knowledge: Toward a Phenomenological Explanation, ontosVerlag, 2006) e vários artigos sobre temas de epistemologia e metafísica (em revistas como Philosophical StudiesSynthese e Grazer philosophische Studien).

O ensaio de Tommaso Piazza parte do pressuposto de que muitas das razões que temos para acreditar algo acerca da realidade são proporcionadas pelas nossas experiências perceptivas. Aceitando também que só uma proposição pode constituir uma razão para acreditar nalguma coisa, o autor formula um princípio segundo o qual a relação entre essa proposição e a crença por ela suportada só pode ser uma relação lógica de consequência ou uma relação probabilística. O objectivo central do seu ensaio é defender este princípio de certas objecções que contra ele se erguem. Tais objecções têm origem em duas questões muito discutidas nos últimos tempos: a primeira é a questão de saber se o conteúdo (representacional) da experiência perceptiva é conceptual ou não-conceptual; e a segunda é a questão de saber qual é a forma desse conteúdo, no caso de ele ser conceptual – nomeadamente, se tem uma forma assertórica (como em «a caneta é verde») ou simplesmente fenomenal (como em «a caneta parece verde»). Os argumentos de Tommaso Piazza procuram estabelecer a conclusão de que, qualquer que venha a ser a decisão final a respeito destas duas questões, aquele princípio fundamental sobre a natureza inferencial da relação entre razões e crenças sobreviverá.

Os ensaios foram avaliados, sem conhecimento da identidade dos seus autores, por um júri composto por António Zilhão (Universidade de Lisboa), Ricardo Santos (Universidade de Évora), Sofia Miguens (Universidade do Porto) e Teresa Marques (Universidade de Lisboa).

A entrega do prémio terá lugar no decurso do 9º Encontro Nacional de Professores de Filosofia, que ocorrerá na Universidade do Minho nos dias 9 e 10 de Setembro de 2011.


Sociedade Portuguesa de Filosofia
Lisboa, 18 de Março de 2011

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