Possibilidades
- O que é a necessidade? (Lógica, analítica, metafísica, epistêmica, nomológica...)
- Modalidede alética e modalidade deôntica (distinção de axiomas – p. ex.: Nec P → P).
- Vocabulário dos mundos possíveis e modalidades (bicondicionais intramodal e extramodal).
- Objetivos e utilizações do vocabulário dos mundos possíveis → diferente capacidade explicativa e diferentes comprometimentos ontológicos.
- Objetivos para o vocabulário: (a) análise conceitual (intensional-extensional), (b) análise ontológica (truthmaker para proposições), (c) análise semântica (model-theoretic semantics – Kripke style). [Purgar entidades duvidosas (essências, modalidades, proposições, propriedades...) por análise semântica, ontológica ou conceitual.] (mostrar propriedade como intensional: Px = Py sse “Px” e “Py” são V nos mesmos mundos – Quine. | P → Q = não há PW em que P e ~Q | Redutibilidade: em todos os PW, todo B tem A; Independência: há PW em que A e ~B...)
- Aplicações ontológicas: (1) identificação ontológica, (2) ser fazedor de verdade de sentenças modais (p. ex.). [1: Para todo x, Fx sse Wx (Fx: entidade a ser reduzida | Wx: constructo de mundos) (não implica que existe x tal que Wx, i.e., não tem comprometimento ontológico ainda); 2: Pw ser fazedor de verdade (realismo) → permite aplicação ontológica (PW faz sentença possível não actual ser V).
- Aplicação semântica: construção de linguagem formal modal (Kripke/Tarski) | Objetivos da semântica: regimentar sentenças da linguagem natural, teoria do significado para termos modais na linguagem natural, explicar a validade de inferências modais (p.ex.: Nec P → P), resultados metalógicos (completude: toda fórmula válida é demonstrável | correção: regras de inferências demonstram somente fórmulas que são válidas), justificar lógica de primeira ordem para avaliar argumentos modais. Interpretação deve permitir a construção de tal semântica. No caso de anti-realistas, eles devem justificar o uso da semântica, mostrando como não se comprometer com quantificação existencial a indivíduos e mundos não actuais.
- Semântica modal (2 estágios): (I) teoria semântica pura (fala apenas de papel funcional, sem mencionar mundos possíveis e nem a linguagem natural), (II) teoria semântica aplicada (relaciona operadores modais com a linguagem natural). Exemplo de I: (V, Poss) =df. V
= T sse existe v acessível a w e V = T | (V, Nec) =df. V = T sse para todo v acessível a w, V = T, senão V= F | [V: valor] (substituir nec por box e poss por diamond) - Vantagens: esclarecer interações modais e relação de acessibilidade (mesmas restrições).
- Vantagem: esclarece a discussão sobre a modalidade absoluta.
- Uso do vocabulário PW deixa em aberto: a forma lógica, o conteúdo conceitual e o comprometimento ontológico. (dependeria da interpretação)
- Interpretação – decidir sobre: (i) aptidão para a verdade das PW-sentenças e verdade de PW-sentenças contestadas; (ii) indicar padrão de valores de verdade para as PW-sentenças; (iii) mostrar a estrutura semântica das PW-sentenças, (iv) dar o significado de termos teóricos chave contidos na PW-sentenças.
- Questões para decidir interpretação: (1) PW-sentenças estão aptas à verdade?, (2) alguma PW-sentença contestada é verdadeira?, (3) PW-sentenças permite a inferência de PW não actual? [Para responder iv, precisamos dar respostas para 1, 2 e 3 anteriormente.]
- Respostas:
- Abstencionistas: sem interpretação / sem uso substantivo
- Realistas genuínos: sim para 1, 2 e 3. (quantifica irrestritamente | PW é entidade maximal concreta) (Lewis)
- Realistas actualistas: sim para 1, 2 e 3. (quantifica sobre o que é actual | PW = tipos de estados de coisas, ou combinação de propriedades e indivíduos actuais (Armstrong), ou tipo de propriedade complexa, ou tipo de coleção de sentenças interpretadas)
- Anti-realista: nega 1, ou 2, ou 3. (Devem justificar o uso da semântica, mostrando como não se comprometer com quantificação existencial a indivíduos e mundos não actuais.
- Anti-Realista nega a: não factualismo.
- Anti-Realista nega b: factualismo + teoria do erro.
- Anti-Realista nega c: dar abordagem positiva da estrutura semântica.
Outros
usos do vocabulário dos PW:
- Epistemologia Modal
- Explicações cosmológicas a priori
- Universos paralelos na física
- Benefício psicológico para pensar modalidades e interação.
Deus
- Como compatibilizar a existência do deus teísta com a quantidade e qualidade dos males que há no mundo e no além (inferno)?
- Formas do problema do mal: (a) lógica (incompatibilidade) e (b) indiciária (mal é indício que Deus não existe)
- (a) I. Deus existe e é onipontente, onisciente e onibenevolente. II. O mal existe. [Dilema: se I é falso, o teísmo é falso; se II é falso, não há pecado e remissão.]
- Explicitar a inconsistência: III. Um ser onisciente, onipotente e onibenevolente impede qualquer mal. [I e III → ~II; I e II e III → (I e III) e II → (I e III) e II e ~II (inconsistente)]
- Resposta: há males, mas Deus não os evitaria, pois há males necessários para certos bens que ultrapassam o mal (ex.: cansaço e objetivo realizado | males e livre-arbítrio).
- Explicações: Mal de 1a ordem: dor, sofrimento e doença (permite simpatia, gentileza, heroísmo); Bem de 1a ordem: prazer, felicidade | Bem de 2a ordem: bem cujo mal de 1a ordem é necessário – bem de 2a ordem é sempre mais valioso que mal de 1a ordem)
- Analogia bons pais – Reformulação de III: um ser onipotente, onisciente e onibenevolente impede qualquer mal que não seja necessário para um bem superior (→ não há males sem sentido: mal não necessário para um bem superior).
- Males de 2a ordem não são “absorvidos” por bens de 2a ordem. Ex.: crueldade, malevolência, calúnia, covardice.
- Há males sem sentido? Como justificar os males de 2a ordem?
- Respostas: (i) teísmo cético, (ii) teodiceia.
- (i): impossível saber se há males sem sentido, pois Deus conhece bens apenas acessíveis a ele; ou a bondade de Deus é diferente da nossa (Hume: então não sabemos o que seria Deus ser bom. Stuart Mill: Deus é dito como bom, mas descrito como mal. Se a bondade de Deus é diferente da nossa, não sabemos o que é a onibenevolência.)
- Objeção: analogia dos bons pais não é boa, pois Deus se oculta.
- Resposta: até a ocultação de Deus pode ser em função de um bem maior (como ter livre-arbítrio e não se sentir obrigado por Deus a agir).
- Objeção: os fins justificam os meios? (Imoral utilizar um ser autônomo como um meio para um fim | E seria injusto) (Deus cria mundo assim, para o homem sentir necessidade de religião e devoção [problema: incompatível com onibenevolência], ou ele usa de males para obter boas finalidades [problema: incompatível com a onipotência].
- (ii): dizer os objetivos de Deus para permitir a quantidade e qualidade de males que há no mundo e no além (tentar mostrar que não há males sem sentido).
- Ex.: Males de 2a ordem são justificados por bens de 3a ordem, como o livre-arbítrio.
- Objeção: Males de 2a ordem não são necessários para o livre-arbítrio.
- Resposta: não são necessários, mas dado o livre-arbítrio, por vezes tais males irão ocorrer. E o livre-arbítrio é necessário para um bem de 4a ordem (Objeção: qual? Quantas ordens iremos aceitar?)
- Ex. de teodiceia: John Hick e a edificação da alma (ela é importante, para querermos, livremente, não realizar o mal) (escolhas livres → sofrimento → crescimento) (progresso para o bem é melhor do que governança eterna do bem) (pecado + redenção é melhor do que inocência sem pecado e sem redenção – objeção: debatível: pai fica feliz com o retorno do filho pródigo, mas ele não preferiria ter algum filho pródigo do que não ter nenhum pródigo → nada indica que pecado+redenção é melhor).
- Objeção: mundo hostil ao desenvolvimento espiritual e não parece justo.
- Resposta: se o mundo parecesse justo, as pessoas agiriam bem por medo, e não por senso de dever ou por compreensão de que o bem é melhor. O mal imerecido gera valores elevados na vida pessoal.
- Objeção: o desenvolvimento moral do assassino não justifica a morte de um inocente.
- Objeção 2: Isso não dá conta do mal natural (e alguns males morais, como a crueldade física, só são possíveis pela existência de males físicos, como a pele ser cortável, p. ex.). (resposta: dá, sim. O mal imerecido gera altos valores – Hick) (Plantinga: mal natural é causado por anjos caídos. Objeção de Swinburne: anjos ad hoc ajuda a desconfirmar a existência de Deus; além disso, o teísmo está em disputa, portanto não pode dar apoio positivo).
- Objeção 3: como nem todos se desenvolvem moralmente plenamente nesta vida, o objetivo de Deus só faria sentido se houvesse reencarnação.
- Resposta (evasiva): impossível justificar cada mal, mas é possível dizer que não haveria desenvolvimento moral em paraíso hedonista.
- Resposta (acertiva): assassinato é justificado pelo livre-arbítrio e mal natural não é mal, mas é infortúnio da convivência entre espécies).
- Objeção: se Deus é onipontente, porque criar espécies que causarão males umas às outras?
- Objeção: se o céu (com seres que livremente escolhem sempre o bem) é possívelm por que não é actual? E, se é possível que um homem escolha sempre o bem, é possível que toda a humanidade o faça.
- Resposta: Livre-arbítrio implica variação na moralidade da ação.
- Objeção: se envolve variação, não entendemos como é um bem de 3a ordem. E, se envolve variação, então ou não é possível que haja céu, ou os humanos que escolhem sempre o bem não são livres.
- Desvio de Moore: provavelmente há males sem sentido; se deus existe, não há males sem sentido; logo, provavelmente, Deus não existe. Provavelmente Deus existe; se deus existe, não há males sem sentido; logo, provavelmente, não há males seem sentido.
- Sobre o desvio: o que é mais provável: existência de males sem sentido ou existência de Deus? | teísta depende que a crença na existência de Deus seja provável.
- Objeção: impossível ter indícios sobre a existência de Deus.
- Resposta: há indícios (argumentos: cosmológico, ontológico, desígnio, moral, explicação mística (abbdução)).
- Argumento estético pelo mal: o contraste aumenta a beleza (ex.: parte dissonante contribui para a beleza da música como um todo)
- Onisciência e livre-arbítrio: distinção: onipotência de 1a ordem (poder ilimitado de agir), onipotência de 2a ordem (poder ilimitado de determinar os poderes das coisas). Dar poder de livre-arbítrio para seres → limitar a onipotência de 1a ordem. Mas nada pode ter onipotência de todas as ordens simultaneamente.
- Resposta: pode, sim, se não usar a onipotencia de 2a ordem para restringir a de 1a.
- Temos livre-arbítrio mesmo ou Deus faz tudo ocorrer? (se deus tinha o conhecimento de tudo que iria ocorrer e de todas as possibilidades para criar as coisas, e se ele tem o poder de atualizar qualquer uma dessas possibilidades, parece que Deus escolheu como tudo seria, e não os próprios seres humanos). [Nesse caso, a distinção entre fazer e deixar ocorrer não é tão clara]
- Problema da omnificência: Deus é, junto com os humanos, também produtor do mal.
- Solução: Deus não pode controlar decisões de seres com livre-arbítrio.
- É possível o livre-arbítrio?
- LA: sem barreiras externas, sem barreiras psicológicas e sem causas suficientes. Temos consciência direta do LA.
- Objeção: Impossível ter acesso direto ao LA, porque embora possamos saber sobra a existência ou inexistência de barreiras externas, conhecemos muito menos as nossas barreiras psicológicas e as causas suficientes das nossas ações (não é possível consciência direta da falta de causalidade, i.e., não é possível evidência introspectiva do LA.
- Resposta possível: Deus não sabe o que farão as pessoas com LA, mas sabe tudo que há para saber.
- Objeção: reduz muito o conhecimento de deus: ele saberia o mesmo que nós podemos saber sobre o que ocorrerá no mundo humano. Redução de conhecimento → Redução de poder.
- Resposta: Deus assumiu os riscos de criar humanos com LA.
- Objeção: Negligência.
- Indeterminismo ser V ajuda o teísta?
- Não, pois ações seriam randômicas e não explicáveis.
- Não, pois não poderíamos utilizar o LA para explicar o mal. A ação má seria randômica, e não responsabilidade de seres autônomos e livres.
- Plantinga: há pessoas com depravação transmundial (essencialmente depravado) (fazem ação má em qualquer mundo em que existam), e isso é a fonte do mal.
- Objeção: ou Deus não criaria tais pessoas, ou só as criaria se fosse necessário para haver LA. Mas depravação transmundial não parece uma condição necessária do LA.
- Se formos utilizar realmente o conceito de LA, ele deve seguir as seguintes condições:
- (1) Decisões livres são independentes da essência do agente, de modo que não poderiam ser divinamente previstas; (2) ser um bem tão valioso (ou ser necessário para tal bem) que supera todos os males não absorvidos ou o risco desses males (pra não cair em negligência); (3) LA não pode colocar o homem fora da possibilidade de controle por Deus.
Existência
- Argumentos metafísicos, epistêmicos e lógicos.
- Arg.: Ontológico, cosmológico, modal, design (teleológico) e incompatibilidades de propriedades ou inconsistência de alguma propriedade.
- Arg. Ontológico: (1) conceito de Deus, (2) estabelece existência de Deus a priori.
- Arg. Ontológico de Anselmo (definições):
- X não existe = X existe apenas no entendimento.
- Deus = o ser maior do que o qual nenhum é possível.
- Existência é qualidade produtora de grandiosidade (debatível: sempre é possível ser melhor do que o que existe, a não ser que estejamos no melhor dos mundos possíveis)
- Argumento:
- Deus existe no entendimento. Deus poderia existir na realidade. Se algo existe no entendimento, e não na realidade, então poderia ser maior do que é. Suponha que Deus existe apenas no entendimento. Logo, Deus poderia ser maior do que é. Logo, é falso que Deus exista apenas no entendimento. Logo, Deus existe na realidade e no entendimento.
- Objeção de Gaunilo: Ilha mais perfeita possível existe.
- Resposta: argumento de Anselmo serve apenas para Deus, porque só ele tem qualidades infinitas e a existência só é produtora de grandeza para seres com qualidade infinitas.
- Objeção: ad hoc.
- Objeção 2: argumento diz que Deus é possível, mas não sabemos se Ele o é. Pode ser que sempre possa haver um ser maior (tal como no caso dos números).
- Resposta: “Log poss → Met poss” é anti-intuitivo. Então a poss lógica de Deus não implica sua poss metafísica. Deus é nomologicamente impossível, mas algumas impossíbilidades nomológicas são possibilidades metafísicas (as leis são metafisicamente contingentes, embora nomologicamente necessárias). Deus seria metafisicamente possível.
- Objeção: argumento ruim, porque há algumas impossibilidades nomológicas que não são possibilidades metafísicas.
- Objeção 3: não podemos determinar se há algo que satisfaz um conceito, ao adicionarmos ao conceito que o objeto existe (ex.: conceito: a ilha de 1000 bananeiras que existe – Ainda caberia perguntar se há algo que cai sob esse conceito).
- Arg. Ontológico de Descartes: ideia de perfeição | toda ideia vem de algo existente | Logo, há algo perfeito. | Só Deus é perfeito. | Logo, Deus existe.
- Arg. Desígnio: complexidade/ordem → criador inteligente
- Complexidade = (1) sistemas teleológicos naturais (ex.: olho – partes unidas em virtude de uma finalidade), (2) constantes fundamentais das leis do universo (probabilidade reduzida de exatamente essas constantes).
- Argumento 1: As máquinas são produzidas por seres inteligentes. O universo se assemelha a uma máquina. Logo, provavelmente o universo foi produzido por seres inteligentes.
- Objeções (Hume): não conhecemos todo o universo → não podemos saber a segunda premissa. | Ser produzido por seres inteligentes não implica a existência do Deus teísta.
- Reformulação do argumento: As máquinas são produzidas por seres inteligentes. Muitas partes naturais do universo se assemelham a uma máquina. Logo, provavelmente muitas partes naturais do universo foram produzidas por seres inteligentes.
- Objeção: seleção natural e evolução (Darwin) são teoria alternativa plausível (ex.: olho).
- Argumento 2: É uma possibilidade remota que as constantes permitam a vida humana. Logo, é provável que tenham sido escolhidas por desígnio inteligente. (Swinburne: probabilidade com hipótese teísta é maior do que sem a hipótese teísta, pois: explica probabilidade, deus teísta é mais simples que outras explicaçõe, explica nossa capacidade de apreender a realidades, explica a existência de ordem e de vida mental (ambas são boas e Deus é bom) [Objeções: teísmo não é mais simples que teorias científicas (Deus não é simples, se tem características que nós temos em nível máximo, pois nós não somos simples) | Só a hipótese teísta explica porque as coisas têm os poderes que têm (sem ela, é fato bruto) [Objeção: dizer que Deus fez assim não explica; para ter explicação, é preciso dizer como Deus fez. Além disso, falta clareza explicativa e simplicidade conceitual].
- Objeção dos mundos possíveis: se existem muitos PW, então nosso mundo não é possibilidade remota.
- Resposta (Swinburne): não temos evidência de outros PW e nem é possível obter, mas temos indícios pelo Deus teísta.
- Objeção: essa resposta removeria a priori a teoria dos muitos mundos da jogada.
- Objeção final: mesmo que os argumentos do desígnio estejam corretos, eles não provariam a existência do Deus teísta.
MORAL
- Papeis possíveis de Deus na moralidade: metafísico (verdade moral), epistemológico (conhecimento moral) e motivacional (razão para agir moralmente).
- Sobre o papel metafísico: Voluntarismo e Dilema de Eutífron (Platão) (ética arbitrária e subjetiva x ética objetiva para além dos poderes de Deus)
- Alternativa: naturalismo (moral sobreveniente ao natural): se o voluntarismo for V, a moral não é sobreveniente ao natural. → vantagem para ateístas: podem reconhecer a moralidade; vantagem para teístas: mandamentos não são arbitrários.
- Argumento moral de Kant (papel metafísico de Deus, e não motivacional) (bem supremo = conexão entre virtude e felicidade): Temos o dever de promover o bem supremo. Se temos tal dever, então o bem supremo é possível. Se deus não existisse, o bem supremo não seria possível. Logo, Deus existe.
- Objeção 1: não temos o dever de promover o bem supremo. (não há contradição alguma em generalizarmos a não promoção do bem supremo)
- Objeção 2: pode haver dever de realizar os sonhos, ainda que eles sejam impossíveis.
- Objeção 3: Ainda que Deus não existisse, o bem supremo seria possível (por educação e leis) → Teísta deve responder porque Deus é necessário para o bem supremo.
ARGUMENTOS DA INCOMPATIBILIDADE E DA IMPOSSIBILIDADE DE PROPRIEDADES
- Argumentos contra a consistência do conceito de Deus teísta. Reduzem a grandiosidade de Deus, se ele existir.
- Soluções teístas: atacar premissas ateístas ou tornar o conceito de Deus mais vago (mais vagueza → menos conteúdo).
- Onipotência (não existe onipotência x refinamento da onipotência):
- (A) Poder de fazer tudo [problema: impossibilidades lógicas]
- (B) Poder de fazer tudo que é logicamente possível [problema: paradoxo da pedra]
- Objeção: criar tal pedra é tarefa contraditória.
- Resposta: humanos conseguem.
- Objeção: tarefas indexicais são problemáticas, porque a indexicalidade é problemática (lembrar do paradoxo do mentiroso).
- Resposta: muitas tarefas indexicais são realizáveis por humanos.
- (C) Realizar os estados de coisa que algum ser poderia realizar [problema: eu poderia realizar o estado de cair uma gota de chuva e não existir nenhum ser onipontente – um ser onipotente não poderia realizar tal estado [objeção: se um ser onipotente for existente em todos os mundos, então tal estado não seria realizável].
- (D) Realizar acontecimentos temporalmente repetíveis e realizáveis por outro ser. [objeção: muito fraco, pois os seres não divinos têm pouco poder].
- Onisciência: (A) conhecer tudo que há para ser conhecido.
- Objeção: se Deus é incorpóreo, não sabe realizar coisas corpóreas; Deus não conhece maus sentimentos (luxúria, inveja etc); Deus não sabe como é ser ignorante.
- Resposta: Deus sabe pela mente dos homens [problema: cair no panteísmo].
- (B) conhecer todo o conhecimento proposicional [problema: saber todas as crenças verdadeiras ainda deixa em aberto a possibilidade de ter crenças falsas]
- (C) B + x crê que P sse x sabe que P
- Objeção (Grim): Deus não pode saber que sou eu que estou sujando o chão (diferente de saber que Rodrigo está sujando o chão).
- Objeção 2: impossível saber todas as verdades, pois não existe conjunto de todas as verdades. Dado o conjunto de todas as verdades, seu conjunto potência (conjunto de todos os subconjuntos) terá mais verdades que o conjunto de todas as verdades (p.ex., as verdades de que tais elementos pertencem ao conjunto).
- Resposta: verdades de VP não são V nem F.
- Objeção: Bizarro. Seria como dizer que algo existe, mas não há verdades sobre esse algo, nem a verdade de que existe.
- Incompatibilidades de atributos:
- Onisciência e liberdade divina: Deus sabe o que fará?
- Perfeição moral e liberdade divina: Deus tem de criar o melhor PW, portanto não é livre (se deus não pode agir mal, então não tem escolha moral genuína e, portanto, não é moralmente louvável; e, se não é moralmente louvável, não é perfeito).
- Imutabilidade e onisciência: impossível algo imutável saber que está chovendo agora.
- Imutabilidade e Deus criador: impossível criar atemporalmente algo.
- Onisciência e liberdade humana: agir tendo o poder de agir de outro modo é inconsistente com a predestinação. [Respostas possíveis: abandonar a predestinação e aceitar presciência (analogia do telescópio) (problema: pouca distinção entre prever e predestinar, num caso aonde se tem todo poder e conhecimento); ou dizer que podemos mudar fatos com relação ao passado (fatos sobre o conhecimento de Deus) (problema: bizarro); ou negar que Deus tem presciência (i.e., liberdade como imprevisível, i.e., futuros contingentes não são V ou F); ou rejeitar liberdade (problema para o teísmo e o problema do mal).
COSMOLÓGICO
- Argumento: (1) coisas são causadas por outras, (II) há um ser incausado que causou a mudança, (III) Esse ser é deus.
- Anselmo: (A) todo ser é dependente (exist. Explic. Por outro) ou auto-existente. (B) nem todo ser pode ser dependente. (C) Logo, existe um ser auto-existente.
- A: a existência de algo não se explica por nada (PRS). (intuitivo x realidade não intuit)
- B: tem de haver o primeiro da série.
- Objeção: ignora série infinita para o passado.
- Resposta: tal série careceria de explicação.
- Objeção: a série de seres dependentes não é um ser dependente.
- Resposta: type e token têm explicações diferentes (eu e a espécie humana, p.ex.)
- Objeção: A explicação da série é o conjunto das explicações dos seres dependentes.
- Resposta: faltaria explicação para o fato de haver seres dependentes.
- KALAM: O universo tem um começo. A causa desse começo é X (teísta: x = Deus; ateísta: x = o próprio universo)
- Argumento: Se o nosso universo não teve começo, houve uma série infinitas de acontecimentos. Uma série infinita de acontecimentos é impossível [problema: isso implicaria um infinito de tempo entre o passado e nós]. Logo, o nosso universo teve um começo.
- Continuação: A causa é deus (teísta) x A causa é o próprio universo (ateísta)
- Quentin Smith: tudo que começa tem causa. O universo começou a existir. Logo, o começo da existência do universo tem causa. Como o universo é uma linha temporal semi-aberta em direção ao passado (t = o é matemáticamente impossível), não há um primeiro instante, mas há um primeiro momento (intervalo), pois para qualquer ponto, podemos encontrar um ponto anterior que foi sua causa (números reais).
- Objeção: o que causa a totalidade dos instantes?
- Resposta: tal totalidade é abstrata e entidades abstratas não se relacionam causalmente com conretos como Deus.
- Como explicar a existência das leis? Com sua existência num momento anterior e na interseção entre momentos.
- Objeção de Burke: pato sobre a mesa + intervalo semi-aberto → má explicação.
- Objeção de Cid: se o universo teve começo, há uma quantidade finita de tempo entre o começo e nós, embora possamos dividir infinitamente essa quantidade.
Livre-Arbítrio
- Responsabilidade moral, LA e determinismo. (As pessoas são controladas por Deus ou há livre-arbítrio?)
- J. Locke: mente tem poder para mover partes do corpo. Mas o que causa a mente mover o corpo?
- Somos livres apenas se nossas ações não são causadas. Mas há ações não causadas? (bizarro algo ocorrer sem que haja nenhuma causa)
- Determinismo: todo evento tem causa | LA: há eventos (mentais) que não têm causa. [Incompatibilismo] [Soluções: LA é ilusão, ou Determinismo é ilusão.]
- Causalidade e Necessidade: se água congelou em condições x, tinha de congelar. | c causa e = dado que c ocorreu, e tinha de ocorrer, i.e., dada a ocorrência de c, é fisicamente necessário que e ocorra. [Determinismo → 1 futuro possível (cadeia causal linear) x Indeterminismo (cadeia causal árvore)]
- Spinosa: pessoas pensam ser livres, porque ignoram as causas de suas escolhas.
- Incompatibilistas do LA: rejeitam determinismo (não funciona para o mental | determinismo não é possível de ser provado para eventos mentais e nunca foi provado pro mundo físico), aceitam que pessoas poderiam ter agido de outro modo, que há eventos mentais não causados, e que a experiência de deliberação mostra que o LA existe.
- Compatibilismo: Há LA. O Determinismo é V. Um ato pode ser livre, mesmo que a volição seja causada.
- Compatibilismo atenta para o uso que fazemos do conceito de LA: livre = fazer o que se quer (ação fruto de desejos, intenções e propósitos) ~ Ação Voluntária (causalidade interna, e não externa - Aristóteles)
- Poderíamos ter agido de outro modo?
- Sim, se tivéssemos escolhido diferente.
- São as decisões as decisões causadas?
- Sim, pelos desejos e preferências (dar exemplo).
- Objeção compatibilista ao indeterminismo do LA: se a volição é não causada (não existe condição suficiente), nem pelos próprios desejos, como a ação dela resultante seria considerada ação do agente? (A Ação seria algo automático, como espirrar e de ocorrência arbitrária. → Indeterminismo do LA torna ação livre sem sentido, pois a torna fruto do acaso em vez de do processo deliberativo.
- Casos de fronteira:
- Assalto: dar a carteira é ato livre? (desejo de salvar a própria vida) (mas houve também restrição externa) → distinção coerção x não-coerção.
- Viciado em drogas/álcool (compulsão interna) → conflito de desejos (+ forte ganha) (vicio causa desejos – a ação fruto de tais desejos é livre?) Não temos controle sobre a força dos desejos → desejo de comer pizza ~ desejo de injetar heroína.
- Objeção ao compatibilismo: se preferências e outros estados internos são causados, a cadeia se estende para além do controle do agente (não controlamos as crenças e desejos que temos)
- Poderíamos ter desejos diferentes de como agimos? Só se as causas dos desejos tivessem sido diferentes. Mas tais causas poderiam ter sido diferentes? Se não, como considerar-se livre.
- Fatalismo 1: nada pode mudar o curso dos eventos / decisões não importam, pois tudo já está decidido.
- Fatalismo (Aristóteles): Batalha Naval + argumento do preguiçoso → ser passivo.
- Determinismo → Fatalismo 1? Não, mas pode implicar Fatalismo Lógico.
Possibilidade
da Metafísica
- Rejeição da metafísica tradicional (incerteza | Hume: razão não funciona a priori | Kant e a rejeição de noções a priori, como deus, imortalidade e liberdade).
- Pq a metafísica não é tão certa quanto a física, a matemática e a lógica? Kant: crítica da razão (limites e funcionamento) + defesa contra ceticismo (com o melhor do racionalismo e do empirismo)
- Como são possíveis sintéticos a priori? Matemática (Estética Transcendental – idealidade transcendental do espaço e do tempo), Ciências Naturais (Analítica Transcendental – categorias fundamentam a possibilidade de conhecimento e experiência), Metafísica (Dialética Transcendental – impossível sintético a priori, a não ser sobre o sujeito transcendental).
- Estética e analítica: espaço e tempo transcendentais + conceitos do entendimento aplicados somente às aparências. → rejeição da ontologia (metafísica geral).
- Nega que os princípios da lógica geral (não contradição) e da sua lógica transcendental (conceitos puros do entendimento) impliquem, por si mesmos, conhecimento dos objetos, pois pode não haver na realidade os objetos dos quais falamos. Assim, a metafísica em abstrato das condições sensíveis não fornece conhecimento. O uso transcendental do entendimento é ilícito em Kant.
- Ontologia deve dar lugar à Analítica Transcendental (mudar do realismo transcendental para o idealismo transcendental)
- Metafísica não é possível, mas somos levados a ela, pois temos uma demanda da razão pelo incondicionado (condição sem condições): queremos sistematicidade, unidade e completude do conhecimento (essa busca é parte da razão humana) e queremos assegurar imortalidade, liberdade e deus. → ilusão transcendental (tomar necessidade subjetiva dos conceitos como necessidade objetiva da realidade) | Vantagens: se usarmos a metafísica regulativamente em vez de constitutivamente, obtemos instrumentos para guiar a pesquisa empírica.
- Princípio supremo da razão pura: se o condicionado está dado, o absolutamente incondicionado também está dado.
- Ideias que asseguram o conhecimento do incondicionado não têm realidade objetiva (não referem a nenhum objeto)
- Rejeição da metafísica especial (conceitos sem intuição são vazios) [Dialética Transcendental – contra cosmologia racional (conceito: mundo), teologia racional (conceito: deus), e psicologia racional (conceito: alma). | Tais objetos são transcendentes, i.e., além de toda experiência possível, e não referem nenhum objeto. | Metafísica faz hipostatização (postulação como real), mas tais objetos são subjetivos.
- Posições metafísicas se fundam na má aplicação de conceitos e princípios = confusão entre fenômeno e númeno.
- Alma (natureza e constituição) – psicologia racional: alma surge como demanda (da razão) por unidade, diz Kant. Psicologia pula do conceito transcendente de sujeito para a unidade absoluta do próprio sujeito (ex.: Descartes: Eu penso → Substancialidade do eu).
- Objeção de Kant: auto-conhecimento não impica a existencia de um objeto. A razão erroneamente objetifica a auto-consciência, por causa da unidade da apercepção da consciência, mas isso não implica a intuição da auto-consciência como objeto. Eu não é objeto, mas veículo para representação de objetos.
- Paralogismos da alma (problema: falácia do equívoco) – ex.: simplicidade da alma, identidade pessoal. → Possível usar alma regulativamente, e não constitutivamente.
- Cosmologia Racional (argumentos sobre o mundo: incondicionado sensível) – problemas: antinomias (argumentos opostos sem solução), como por exemplo finito x infinito, liberdade x causalidade.
- Soluções em cosmologia: dogmatismo (platonismo – base inteligível das aparências, fuga para reino inteligível com explicações que abstraem do que é dado ou possivelmente dado na experiência) ou empíricos (epicuristas – conjunto total das aparências – acabam sendo dogmáticos, por tomarem a forma da subjetiva da sensibilidade como condições ontológicas).
- Ambos os lados das antinomias vão igualmente bem ou mal: logo, não é possível solucionar. E as antinomias se fundam em tomarmos o mundo como independente da mente.
- Ambos os lados pensam que há mundo, mas ele é finito ou infinito. Kant pensa que o mundo não é nenhum dos dois; ambas as posições tomam o termo “mundo” ambiguamente (por vezes como transcendental e outras como empírico.
- Resolução da antinomia: dizer para que domínio cada lado vale (platônico pode persistir, mas não como explicação das aparências | empírico pode persistir sobretudo como explicação das aparências.
- Teologia Racional: deus = ser absolutamente necessário e ser supremamente real (demanda por unidade sistemática e completude do conhecimento (demanda mais alta da razão pelo incondicionado)
- Fonte do erro: pensar que a soma total da realidade é uma coisa individual (→ representação de ser supremamente real), querer dar conta da pura possibilidade das coisas em geral e querer fundamento para a completa determinação dos conceitos (para cada objeto, ele é ou não um F). Ser supremamente real (dá conta da totalidade) e ser absolutamente incondicionalmente necessário (dá conta dos seres contingentes).
- Ideia de deus é inevitável, mas não podemos conhecer tal objeto.
- Kant: rejeição dos argumentos metafísicos (ontológico, cosmológico e teleológico) pela existência de deus, que tentam conectar o ser supremamente real como o ser absolutamente necessário.
- Objeção ao argumento ontológico: existência não é um predicado real, porque predicados reais alargam o conceito. Assim existência é predicado meramente lógico, e não real.
- Argumentos Teleológico e argumento cosmológico: como precisam do argumento ontológico para conectar o ser supremamente real como o ser absolutamente necessário, eles caem junto com o argumento ontológico.
- Cosmológico: se algo existe, então um ser absolutamente necessário deve existir também. Pelo menos eu existo. Logo, há um ser absolutamente necessário.
- Pressuposições Dialéticas: inferir da contingência dentro da experiência para a causa além do mundo dos sentidos; inferir uma primeira causa para além dos sentidos a partir da impossibilidade conceitual de uma série infinita (confunde possibilidade lógica com transcendental).
- Teleológico: beleza, ordem, propósito → ser inteligente como causa
- Objeção: isso ainda não prova que tal ser inteligente é o ens realissimum (arquiteto x criador). Para isso, teria de confiar no argumento ontológico, que é falho.
- Explicação do erro: pressuposição de propósito e unidade sistemática (parte da razão e essencial para as ciências naturais)
- Objetivo da dialética: remover da razão seu uso transcendental.
- Apêndice: (1) uso regulativo das ideias da razão (fonte heurística de princípios e ideias necessárias para as ciências, dado que não há correspondência na realidade para as ideias da razão), (2) razão regula entendimento para dar unidade ao conhecimento científico.
- Kant: unidade sistêmática serve para a nossa conveniência → pressupor unidade sistemática na natureza.
- Apêndice (2a parte): Deus, alma e mundo são 3 ideias da razão com tarefas teóricas importantes (Alma: guia psicologia empírica, Mundo: guia a física empírica, Deus: unifica física e psicologia em uma única ciência). O uso regulativo da sistematicidade visa dar conexão a fenômenos díspares.