Autor: Alexandre Machado
Um adulto pede a uma criança: “Diga ‘café da manhã’”. A criança diz: “Não sei dizer ‘café da manhã’”. Frank Ramsey sugere que quando Wittgenstein diz, no Tractatus, que não se pode dizer que p porque isso se mostra, ele está dizendo algo semelhante ao que diz a criança do diálogo acima. Ramsey e Russell acusam Wittgenstein da seguinte forma de incoerência: fazer X a fim de mostrar que X não pode ser feito. Rudolf Carnap tentou superar essa dificuldade dizendo que aquilo que não se pode dizer numa certa linguagem L, pode ser dito numa metalinguagem L’ que tome L como linguagem objeto. Essa solução já havia sido sugerida por Russell na sua introdução ao Tractatus através da idéia de hierarquia de linguagens. Todavia, Wittgenstein rejeita a idéia de uma metaperspectiva. Isso seria colocar-se “fora da lógica, fora do mundo”. Só há uma lógica e nada pode ser dito que não a pressuponha. Peter Hacker e outros intérpretes parecem não ver qualquer incoerência na distinção tractariana entre dizer e mostrar. Hacker afirma que, para Wittgenstein, há dois tipos de absurdos: absurdos esclarecedores (illuminating nonsense), como as sentenças do Tractatus, que nos fazem perceber aquilo que não pode ser dito, mas se mostra, e absurdos desorientadores (misleading nonsense), como a sentença “Sócrates é idêntico” (TLP, 5.473), que não se diferenciam de misturas de palavras.
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Citação: Machado, Alexandre (2001). "A Terapia Metafísica do Tractatus de Wittgenstein". Cadernos Wittgenstein: n. 2, pp. 5-57.